Opinião

Miguel Macedo e a Justiça que nunca repara

O caso de Miguel Macedo não é único. Mas devia ser o último. Porque um país onde a justiça destrói e nunca repara não é um país justo

Despedimo-nos de Miguel Macedo.

Morreu um homem bom, um dos políticos mais sérios da sua geração. Mas a verdade é que, muito antes de partir, já lhe tinham retirado a vida que construiu. A justiça dos tribunais absolveu-o, mas a justiça popular condenou-o para sempre. E agora, os mesmos que o trucidaram publicamente, apressam-se a elogiá-lo. Tarde demais.

Vivemos num tempo perigoso, onde a justiça se faz nas manchetes e nos comentários das redes sociais. O tribunal da opinião pública julga rápido, condena sem hesitação e nunca revoga a sentença, mesmo quando a verdade vem ao de cima. No caso de Miguel Macedo, foi assim. Foi humilhado, vilipendiado, tratado como um criminoso sem direito a defesa. Mas quando os tribunais fizeram justiça – a verdadeira justiça, aquela que analisa provas e respeita o contraditório – já era tarde. Ninguém quis saber.

O que fica quando a reputação de um homem é destruída? nada. A absolvição, essa, vem fria e sem efeitos práticos. Porque na nossa sociedade, a humilhação pública é irreversível. A justiça pode reparar na letra da lei, mas nunca repara no olhar das pessoas. Miguel Macedo foi um dos muitos que sofreram com este fenómeno cruel da destruição pública sem retorno. O seu caso devia servir de lição, mas quem quer aprender?
Hoje, os mesmos que lhe fecharam portas, que o excluíram do debate público, que o tornaram um pária, vêm agora encher as redes sociais e as colunas dos jornais com homenagens sentidas. Que ironia! Onde estavam quando ele precisava de defesa? onde estavam quando era tratado como um corrupto sem provas? agora que já não pode responder, erguem-no como exemplo. Agora que já não pode recuperar o que lhe tiraram, dizem que era um homem íntegro.

Este é o maior pecado do nosso tempo: julgamos sem provas e absolvemos quando já não importa. Matamos em vida aqueles que um dia decidimos odiar. E, no final, fazemos de conta que sempre estivemos do lado certo da história.

O caso de Miguel Macedo não é único. Mas devia ser o último. Porque um país onde a justiça destrói e nunca repara não é um país justo. É um país doente.

E a doença da nossa democracia só tem cura se tivermos a coragem de admitir os erros que cometemos. Mas, acima de tudo, de nunca mais os repetir.


Vamos sentir a tua falta Miguel! Descansa em paz.