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Opinião

Auschwitz em 2025

A UE tem de ser capaz de manter viva a memória histórica, garantindo que a mesma não é aniquilada por algoritmos e negacionismos

O melhor livro de ficção que li sobre a União Europeia (UE) é de um escritor austríaco, Robert Menasse, “A Capital”, e ganhou o prémio de Livro Alemão 2017. Neste romance, que é uma sátira deliciosamente cruel e oportuna sobre a UE e o significado da Europa nos dias de hoje, os burocratas europeus são retratados como seres humanos simultaneamente empáticos e cruéis, ao comando de uma máquina que se orienta de modo impie­doso pela prossecução dos seus fins. Estes fins são diversas vezes determinados nos gabinetes, longe do escrutínio democrático. A verve autopoiética da burocracia europeia autolegitima-se e reforça-se, mantendo aquilo que na linguagem coloquial se designa de “bolha europeia”, num epíteto benigno mas muito danoso para as credenciais democráticas do projeto comum que nos une.