Opinião

Segurança e crescimento: uma aposta ganha

Só podemos agradecer aos Polícias por terem conseguido manter os níveis de segurança em níveis considerados apetecíveis para olhares externos, ainda que recentemente se observem sinais de alarme resultantes de uma aparente estabilização no crescimento da criminalidade violenta e da perceção de insegurança nacional

Não sendo inédito, ouvia hoje o Sr. Ministro da Economia, no podcast “Conversa Capital”, falar na necessidade de consolidarmos a marca Portugal como um porto seguro num mundo em efervescência e repleto de instabilidades de diversa ordem. Esta alusão parece estar alinhada com o discurso que este Governo tem vindo a sedimentar ao longo dos seus nove meses de governação, apostando forte, pelo menos no plano do discurso e das linhas programáticas, no tema da Segurança. E não será por acaso, tendo em conta que Portugal regista, segundo o World Travel & Tourism Council, o segundo maior valor de retorno económico por via do turismo em toda a Europa, com quase 20% do seu PIB, só ultrapassado pela Croácia com mais de 25%, sendo um dos maiores do mundo. Aliás, não será certamente por mero acaso que Portugal ocupou, este ano, o 15.º destino mais pacífico para visitar no mundo, segundo o Hellosafe Index 2024, entroncando no já bastas vezes invocado Global Peace Index, onde Portugal ocupa um confortável 7.º lugar, ainda que tenha vindo a descer paulatinamente nos últimos anos.

Mas não só, no plano dos riscos e ameaças, com uma análise alargada a fatores de instabilidade, segundo o Security Threats Index do Global Economy, Portugal ocupa um dos últimos lugares, sendo considerado um dos países mais estáveis do mundo. Este resultado encontra correspectividade com o registo do Safety Index 2025 da Global Residence, colocando Portugal no 22.º lugar do ranking quando falamos em segurança global.

Se existem dúvidas em correlações de outra natureza, aqui não existem dúvidas por parte da literatura científica em ligar o turismo à segurança e aos riscos, sendo este último um importante parâmetro e fator que influi sobre a decisão de escolher um ou outro país como destino, e não é por acaso que a Confederação de Turismo de Portugal e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal fazem essa menção nas suas páginas oficiais, integrando invariavelmente os discursos dos seus interlocutores. O turismo em Portugal é hoje, sem margem para dúvidas, um dos maiores fatores de crescimento económico do país, mas que depende, em grande medida, do clima de segurança que se vive e perceciona, sendo que esta dependência não tem parado de crescer na última década, podendo, segundo o World Travel & Tourism Council, ir além dos 22% ainda nesta década.

A título de exemplo, e podendo reclamar inúmeros estudos nesta área, um recente de 2022, de Morgana Esperança, coloca a Segurança e a Saúde como os mais elevadores fatores na escola de um destino turístico, com mais de 76% dos inquiridos a consideraram como “muito importante” a Segurança.

As razões que se aplicam para o turismo podem facilmente ser transpostas, por óbvias razões, para quem procura Portugal para viver ou investir, decidindo aí fazer vida, pessoal ou empresarial. Não há por isso qualquer dúvida de que a segurança é peça fundamental neste motor de desenvolvimento, não sendo por isso razoável que se continue a olhar para ela de ânimo leve, ou confiando que as Polícias de Portugal continuarão, como têm vindo a fazê-lo, a dar uma resposta cabal e fundamental para que estes fantásticos índices se mantenham, ainda para mais sem uma verdadeira reforma e melhoria nas condições de trabalho, e sobretudo remuneratórias.

Lembramos (conforme artigo nosso recente) que os seus salários são dos mais baixos de toda a União Europeia, ocupando o penúltimo lugar na proporção com o salário mínimo e o 3.ª pior resultado, com mais de 30% de diferença, entre o salário acumulado de um Polícia com a média salarial no país (só ultrapassado pela Grécia com 33.3% e pela Polónia com 37.4%, e bem longe dos 12% da média europeia). Só podemos, por isso, agradecer aos Polícias por terem conseguido manter os níveis de segurança em níveis considerados apetecíveis para olhares externos, ainda que recentemente se observem sinais de alarme resultantes de uma aparente estabilização no crescimento da criminalidade violenta e da perceção de insegurança nacional.

Recentemente, várias carreiras tidas como essenciais para o Estado viram as suas carreiras e salários serem expressivamente revistas, quer as Forças Armadas, médicos e, mais recentemente, os bombeiros, com quase 400€ de aumento e especial incidência no início das respectivas carreiras. Espera-se, por isso, agora que voltámos à mesa de negociações, que as Forças de Segurança sejam consideradas na real medida do que representam para o bem-estar deste país, de quem cá vive e de quem pretende vir a escolhê-lo como local para viver ou investir. Só assim conseguiremos manter esta marca de qualidade, e para isso precisamos de cativar e atrair as futuras gerações para que queiram voltar a abraçar esta nobre, mas esquecida, profissão.

Lembrando o recente slogan do Turismo de Portugal, esperamos que o futuro das Forças de Segurança siga o mesmo rumo e que o futuro seja mais esperançoso que o presente: “Visit Portugal. It’s not tourism. It’s futourism”.