Estávamos em Boston e quisemos ir a New Bedford ver o “tal” bar onde portugueses violaram uma lusodescendente numa mesa de bilhar, e que deu origem a um filme com Jodie Foster, que ganhou o Óscar: “Os Acusados” (1988) — em que foi omitida a origem dos intervenientes. Estudávamos na Boston University e sentíamos que pertencíamos àquele lugar de pessoas MIT e Harvard. O tal bar já não existia. Mas havia outros com nomes portugueses. Entrámos. O ambiente era pesado. Uns homens a beber cerveja, caras de pele carcomida pelo sol (lembro-me vagamente de uns símbolos de portugalidade). Mas entre aqueles portugueses e nós, os estudantes-jornalistas dos deslumbrados anos 90, havia muito pouco em comum. A própria língua, um carregado açoriano-americanizado e o nosso lisbonês-snobe, não se fazia compreender. Mais: não nos reconhecíamos uns nos outros.
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Português: raça indefinida
Nos EUA, raça e etnia são essenciais para a identidade. Os portugueses sempre navegaram num limbo de ambiguidade