A antecâmara da eleição do próximo Presidente da República tem proporcionado momentos interessantes. O almirante Gouveia e Melo anda ocupado a rejeitar apoios, todos os outros potenciais candidatos andam a tentar desesperadamente obtê-los. A estratégia correcta é, ao que tudo indica, a do almirante, que parece ter compreendido melhor do que ninguém a natureza do cargo ao qual se vai candidatar, e o momento em que se candidata. Fartos do circunspecto Cavaco, os portugueses elegeram o festivo Marcelo. E agora, fartos do festivo Marcelo, parecem inclinados para eleger outro senhor circunspecto. O almirante tem circunspecção para oferecer. Além disso, percebeu também que o Presidente da República é, em grande medida, um símbolo. Ou seja, o equivalente político de um bibelô. E o trabalho do bibelô é estar sossegado a enfeitar. O almirante sabe estar sossegado e tem potencial estético para ser muito competente a enfeitar. Por isso, tem optado inteligentemente por falar o menos possível. E vê-se que está a trabalhar num sorriso que acompanha com as sobrancelhas em posição de acento circunflexo, expressão que transmite simultaneamente tranquilidade e altivez. Não precisa do apoio de ninguém, e foi por isso que esta semana rejeitou o apoio do movimento que o apoiava — que, obedientemente, deixou de se movimentar.
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O movimento deixou de se movimentar
Fartos do circunspecto Cavaco, os portugueses elegeram o festivo Marcelo. E agora parecem inclinados para eleger outro senhor circunspecto