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Opinião

A mala, para sempre

O processo de recrutamento de candidatos autárquicos do Chega — essencialmente, aqueles que não tiveram sucesso em ir por mais ninguém — poderá descobrir personagens de idêntico potencial literário, quando não eleitoral

Para um frequentador habitual de aeroportos, o caso de Miguel Arruda e das malas desaparecidas nas chegadas de Lisboa poderá ser indutor de stresse pré-traumático. Que um titular de um órgão de soberania possa ser autor de um crime tão inusitado leva-nos ao riso e a um conjunto de perguntas igualmente originais. A primeira, à partida evidente mas nem por isso, é sobre o seu objetivo. Por que razão roubou, Miguel Arruda? Necessidade? Curio­sidade? Compulsão? A segunda, crescente a cada novo desenvolvimento, é como. Se o deputado inseria malas de dimensão inferior numa maior, que levava consigo, onde diabo transportava as suas próprias coisas? A terceira, fundamental para entender as demais, é, afinal, o que procurava Miguel Arruda. Joias e dinheiro? Gravatas de seda e pares de sapatos do número indicado? Souvenirs de países que não antevia visitar? Só perguntando.