Tinha José Sócrates chegado à liderança do PS e deixei, num blogue, uma foto sua, ainda novo e todo janota, com a legenda “o fura-vidas”. Concedi que poderia haver algum classismo na minha avaliação. O tempo veio confirmar que, mesmo vigiando os nossos preconceitos, não devemos desprezar o primeiro instinto. Depois dele, pode vir a patine falsificadora do poder. Seguindo os conselhos de Cavaco, Montenegro soube esconder-se atrás de um enganador muro de silêncio. Seguindo a receita de 1987, tomou medidas populares enquanto encaminhava a oposição para um beco sem saída. Distribuiu dinheiro pelos grupos que tinha de conquistar ao PS (reformados) e ao Chega (polícias) ou com mais capacidade de mobilização social (professores). E esticou a corda na política fiscal. Se o PS viabilizasse o Orçamento, anulava-se enquanto oposição, se não o fizesse, seria responsável por uma crise política no melhor momento para a AD. Ainda assim, uma estratégia de curto prazo: nem esta perda de receita e aumento da despesa é sustentável nem este Governo foi construído para durar.
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Quando Montenegro é encostado à parede
A arrogância silenciosa, que Montenegro treinou durante meses, não resiste à volatilidade de uma governação cata-vento, ao sabor das perceções. Sem o “estado de graça” inicial, começa o escrutínio mais rigoroso, com que um Governo com esta fragilidade técnica, política e eleitoral terá dificuldade em lidar