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Opinião

Subitamente, ficou feia a fotografia

Depois de seis semanas de instrumentalização política de operações policiais, a imagem de uma rua de inocentes encostados à parede seria inevitavelmente política. E a súbita tentativa de despolitizar o que se andou a politizar mostra que o Governo ainda acredita que pode nadar nas águas da extrema-direita e manter-se seco

“Esta operação, chamada por alguns de megaoperação policial no Martim Moniz, é apenas uma. Temos várias calendarizadas e demos instruções às forças de segurança para continuarem a fazer este trabalho no terreno.” A garantia fora dada por Leitão Amaro, a 8 de novembro, no dia do primeiro raide naquela zona de Lisboa, enquadrada nas seis semanas de operações policiais para “aumentar o sentimento de segurança dos cidadãos”, como foram anunciadas pelo Governo. Mas tudo mudou a 19 de dezembro. Afinal, a PSP limitava-se a fazer o que sempre fizera sem que o Governo tivesse qualquer coisa a ver com o assunto. Nenhuma interferência, juraram. Entre os dois momentos, a imagem de uma longuíssima rua do centro de Lisboa com imigrantes, até perder de vista, com as mãos encostadas à parede.