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Opinião

Natal é com o Cândido

O país que aparece nos media é só o país do Estado ou em volta do Estado; a sociedade não aparece, não aparecem as paróquias, as empresas, as associações e, claro, os clubes

O debate sobre qual é o melhor programa de Natal acabou: o “Cândido on Tour” leva a taça. É o programa ideal para juntar netos, pais e avós, até porque mostra três gerações em interação nos pequenos clubes das distritais. Cada clube tem como pilares três ou quatro famílias de gente normalíssima que encontra no Cândido Costa o oráculo perfeito. É incrível, de facto, ver como um jogador mediano se transforma aos 40 num génio do humor físico e do improviso sem rede. Sim, sem rede. Tudo ali é um improviso que está dependente de uma substância de que tanto se fala: empatia. O “Cândido on Tour” não é a empatia teórica dos intelectuais e políticos que adoram as palavras abstratas, O Povo, O Outro, O Martim Moniz. Não: aqui vemos uma empatia prática que abraça a carne assada e o cheiro a raposinho dos balneários, que abraça o Zé, o emigrante que passa o agosto nas futeboladas do clube da terra, que abraça a Maria, a avó que faz arroz-doce para os meninos do clube, que abraça o Joaquim, o vizinho que acorda às seis de um domingo para marcar as linhas do pelado com a máquina da cal, que abraça o Zacarias, o vizinho pedreiro que perdeu um fim de semana para murar um campo em ressurreição, que abraça os irmãos que salvaram o sintético de um incêndio só porque não queriam que os miúdos da terra perdessem o espaço onde podem ser felizes juntos, que abraça a Rute, a senhora que reergueu um clube para honrar a memória do pai, que abraça o ex-futebolista profissional não famoso que reergue o clube da terra ao mesmo tempo que tenta criar uma empresa de raiz para assim fixar gente no interior, que abraça o clube que disponibiliza as suas instalações para os meninos de um clube vizinho que perdeu tudo para um incêndio, que abraça a Dona Isabel, que faz da sua casa a lavandaria do clube. Estes portugueses luminosos nunca aparecem nos media; jornais e sobretudo as televisões só conseguem mostrar a imagem estereotipada e subqueirosiana de Portugal: está tudo mal, somos péssimos, isto é uma choldra.