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Opinião

Não é não

Para Michaux, não é não. A aventura é interior. E o exterior é um “espectáculo contínuo”, que transforma todos, incluindo escritores, em “personagens”

O que quer um escritor? Jean-Luc Outers, editor do volume “Donc c’est non” (2016), enumera: “Ser lido por um grande número de leitores, acumular críticas elogiosas, ser entrevistado na imprensa, rádio e televisão, receber solicitações de todo o género: fotografias, colóquios, artigos, festivais literários, traduções, números especiais de revistas, ser agraciado com os prémios literários mais prestigiados, ver textos seus adaptados ao teatro ou ao cinema ou musicados e interpretados por orquestras, de preferência sinfónicas, ser objecto de estudos eruditos ou de teses universitárias, ser acarinhado pelo editor (reimpressões, reedição em livro de bolso ou numa caixa e — a maior ambição — em papel bíblia na Pléiade), ser solicitado por outros editores, ser lido unanimemente na academia, ter o nome e a assinatura em petições ou em movimentos artísticos, ver a obra lentamente consagrada aqui, em todo o lado e em todas as línguas.” Ao prefácio seguem-se quase 200 páginas de cartas do escritor e poeta franco-belga Henri Michaux (1899-1984) a recusar isso tudo. A dizer que não.