A Europa parece estar a acordar da sua longa letargia, mais de 50 anos de desinvestimento na sua segurança e defesa. Sem o poder militar americano a Europa ficará sem capacidade autónoma de defesa.
A probabilidade da eleição de Donald Trump como o presidente dos EUA, torna cada vez mais urgente a definição da ligação estratégica entre a União Europeia e a NATO. A sua eleição pode causar danos irreparáveis na operacionalidade da Aliança.
A UE tem gradualmente vindo a desenvolver capacidades militares reservadas à NATO, significando uma maior parceria entre as duas alianças, como bem mostra o novo conceito da União “Bússola Estratégica” e o novo conceito da Aliança Atlântica. Contudo, continua a haver muito ceticismo sobre a capacidade da UE garantir uma segurança eficaz na Europa. O sucesso desta parceria terá de assentar no desenvolvimento de um pilar de segurança europeia, fundamentada num forte investimento nos orçamentos de defesa, melhores capacidades militares e uma forte indústria de defesa. Num cenário de segurança extremamente volátil, uma parceria robusta é não só desejável como é imperativa.
As próximas eleições americanas poderão ser um ponto de viragem na Guerra na Ucrânia, uma mudança radical na ordem mundial e implicar consequências graves na Europa. Qualquer que seja o desfecho das eleições, o futuro da política estratégia americana estará cada vez mais orientado para o eixo Indico/Pacifico e menos centrada na Europa. O protecionismo das indústrias e do comercio americano será cada vez mais evidente.
Se a candidata democrata for eleita, será a continuidade da atual política internacional americana, com algumas variantes. O apoio à NATO e à Europa manter-se-á sólido, assim como o apoio à Ucrânia. No caso oposto, se a vitória for do candidato republicano, as consequências para a Europa serão péssimas e no caso da Ucrânia serão terríveis. A nova administração na Casa Branca será na sua essência isolacionista, cortará provavelmente toda e qualquer ajuda militar à Ucrânia, desligando-se das garantias da segurança da Europa, serão normais as aberturas e ou acordos com a Rússia e outros estados autocratas, simultaneamente tornando-se cada vez mais hostil para a NATO e outros aliados tradicionais. Nestas circunstâncias e sem o apoio dos americanos, terão de ser os aliados europeus da Ucrânia, a garantir a assistência militar e económica, para a manutenção das capacidades defensivas da Ucrânia, diminuindo consideravelmente as hipóteses de vitória das forças militares ucranianas.
Trump é intelectualmente um incapaz, um perfeito desconhecedor da realidade da política internacional, o seu comportamento é cada vez mais desequilibrado, é vingativo e não admite ser contrariado, um autoritário que pode conduzir a América a um verdadeiro desastre. Há o sério risco da América se tornar numa espécie de teatro do absurdo. O relacionamento com o presidente Vladimir Putin é estranho, será por admiração pelo tirano ou simplesmente pura retórica eleitoral? Várias questões surgem, como reagirá a Europa numa relação privilegiada entre Putin e Trump.
Recentemente a presidente da Comissão Europeia, afirmou que a UE deverá assumir a responsabilidade, daquilo que considera ser uma ameaça existencial à segurança na Europa e aos seus próprios vizinhos, e que deverá preparar-se para enfrentar algumas das sobrecargas financeiras. Acrescentou, a UE deverá investir nos próximos anos, para o desenvolvimento das capacidades militares e das suas indústrias de defesa, cerca de 500 mil milhões de euros.
O relatório Draghi afirma claramente que, num mundo de grande produtividade, de diminuição da estabilidade geopolítica, onde o comercio internacional cresce exponencialmente e as dependências tornam-se vulnerabilidades, a UE tem de aumentar a sua produtividade e apostar nas tecnologias emergentes. No capítulo sobre as indústrias de defesa, afirma que a indústria tecnológica é caracterizada pela inovação, significando massivos investimentos para garantir a competitividade e a paridade estratégica.
Na UE de junho de 2022 a junho de 2023, 78% das aquisições militares vieram do exterior, das quais 63% com origem nos EUA. Os EUA durante o ano de 2023 alocaram às áreas de investigação militar 130 mil milhões €, em contraste a UE alocou em 2022 10,7 mil milhões €, apenas 4,5% do investimento total.
Em Portugal a indústria de defesa é quase inexistente, com pequenas exceções na indústria aeronáutica e na construção naval. O investimento na investigação tende para zero. É urgente a definição de uma estratégia para a indústria de defesa, para aproveitar os investimentos europeus nos próximos 10 anos.