Viver calado não nos confere grande alegria, mas tem a vantagem de não ameaçar o lar onde nos abrigamos. Imagino que os portugueses não sejam o único povo que cala, mas calam eximiamente. Dominam com facilidade esta forma de existência. Não se trata de um silêncio no qual fermenta a mudança, que explodirá em gritos, mas de um gesto de indiferença e cumplicidade. A minha mãe tinha um lema do qual sempre discordei. Dizia ela que “o calado ganha sempre”. Dizia, ainda, que “o que fica por dizer nunca se perde”.