Houve um tempo em que se discutiu se “sexo oral” era considerado sexo e infidelidade. Isto é verdade. Bill Clinton, sob ameaça de impeachment, garantia não ter tido “relações sexuais” com uma estagiária, porque, em termos semânticos, um fellatio não cumpria os parâmetros de “ter sexo”. E discutia-se animadamente se o Presidente dos EUA tinha razão. Hoje, gerações mais novas estão a um nível mais capilar e debatem “microtraições”. E o que são microtraições? Os especialistas dizem que são “comportamentos que levam a questionar o empenho da outra parte na relação”. Um exemplo consensual: descobrir que o namorado/a anda a pôr likes no Instagram em fotos de tudo o que é miúda de biquíni (ou só de uma em particular em deep scrolling, indo fazer likes lá para 2019 para não ser caçado) é uma boa maneira de explicar o que é uma microtraição. Viver sem cometer microtraições implica um comportamento que exige a constante necessidade de provar que não se tem nada a esconder. O que pode ter efeitos perversos, digo eu. Porque nas sábias palavras do dr. House “todos mentimos”. É ousado pensar que os humanos podem prescindir da privacidade numa geração. E acreditar no ímpeto da paixão que amar é dar as passwords. E demonstrar a todo o tempo que não há zonas de sombra na existência. É por isso que a partir daí qualquer desvio, qualquer pífio errare humanum est, se transforma em drama macro. Nesta era digital.
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Microtraição é um like malandro
Dê passwords, acesso às mensagens pessoais, controle os pensamentos, acabe com a porcaria da masturbação. O amor na era digital é puro e sem privacidade