A eleição das lideranças nas principais instituições europeias consolidou o quadro institucional da União Europeia. Registaram-se duas reeleições, de Úrsula von der Leyen e Roberta Metsola, complementadas por uma estreia, António Costa, que se adivinha na continuidade do mesmo pensamento político.
São lideranças fortes, com trajecto político e experiência comprovada, não são questionáveis as capacidades individuais, mas prenunciam um caminho de continuidade quando a Europa precisa, urgentemente, de mudança.
Mudança que a reconcilie com os propósitos originais, com a ambição dos seus fundadores, com a visão dos seus arquitectos. A Europa genuína pretendia ser um espaço competitivo, ambicioso, onde a nova dimensão do mercado proporcionaria ganhos de escala, redução dos custos de produção, mitigação das externalidades negativas e consequente aumento da produtividade. Produtividade que permitia maior prosperidade e com ela o aumento dos salários.
Esta foi a Europa da visão, do arrojo, pró-activa e positiva.
A Europa que Konrad Adenauer tão bem sintetizou: “Nas últimas décadas e séculos, o carvão e o aço tiveram um papel destrutivo nos conflitos entre os povos da Europa, tendo sido utilizados no fabrico de armas. Esperemos que o carvão e o aço unam agora estes povos, para que possam pensar, agir e prosperar em conjunto.”
Infelizmente, nos últimos anos, os grandes objectivos foram sequestrados por pequenos poderes, burocráticos, que transformaram a Europa num gigante balofo, cheio de si próprio que, ao invés de crescer como seria exigido, só engorda.
A vontade de vencer, de ser mais em tudo, tem sido capturada pelo receio, pelo medo, pela ameaça da concorrência, pela insegurança perante o advento de outras geografias.
A Europa tornou-se refém dos seus próprios medos, passando de uma estratégia aguerrida, ousada, para uma posição defensiva, amedrontada.
Assustada, passou a legislar sobre tudo e sobre nada, a produzir regulamentos sobre tudo e coisa nenhuma, criando um emaranhado legislativo que atrofiou a economia.
Acredita que se defende da concorrência externa com a produção frenética de regulamentos, criando uma espécie de muralha regulatória que se pretende impor como uma fronteira invisível e inultrapassável. Pensam que, por decreto, com um labirinto de regras, impedem a concorrência da Ásia/Pacífico. Um erro, porquanto não só não impede como asfixia a própria produção europeia.
São regras em catadupla, regras para o tamanho da maçã, regras para o peso do tomate, regras para os adubos, regras para os fertilizantes, regras para a apanha, regras para o acondicionamento, regras para a distribuição, regras para a comercialização, regras sem fim.
Queixava-se, há umas semanas, um agricultor espanhol, que tinha transportado gado durante toda a vida, já o pai dele o fazia e nunca teve qualquer acidente ou incidente, mas foi multado porque fazia o transporte sem ter curso adequado. Seria bizarro se não fosse apenas um exemplo do espartilho em que a Europa se transformou, seja para produtores ou empreendedores.
Transformou-se numa espécie de fábrica da burocracia, em que qualquer processo se torna complexo, onde as decisões são morosas, lentas, tão lentas que quando chegam já estão prejudicadas no próprio interesse.
Comparar o crescimento económico da União Europeia com o dos Estados Unidos ou da China, é como comparar um barco a remos com uma lancha rápida.
Para 2024 a OCDE estima um crescimento de 0,7% na zona Euro, enquanto para os Estados Unidos e para a China prevê 2,6% e 4,9%, respectivamente. São diferenças que fazem, desde há muito tempo, soar os mais estridentes sinais de alarme, mas a Europa prefere ignorar e, ao invés de reagir, assusta-se, ao invés de atacar, defende-se e ao invés de corrigir, insiste nas mesmas soluções
Para voltar ao espírito fundador terá de retomar o propósito principal da sua origem: Ganhar competitividade pela produção de energia.
A Energia, a sua produção, conservação e distribuição, constituem, hoje, o fator mais diferenciador entre economias.
A UE não tem os recursos tradicionais, combustíveis fósseis, mas tem a tecnologia, tem o saber e a logística necessária para liderar a produção de energias renováveis, complementadas com a energia nuclear, a preços muito inferiores a qualquer outro recurso, seja gás ou petróleo.
O petróleo não dura sempre e o seu fim pode estar mais próximo do que imaginamos. As regras de produção da OPEP, que impõem quotas de produção anual em função das reservas que cada país membro tem, fomentam a sobrevalorização dos stocks. Não existindo qualquer entidade internacional idónea que fiscalize e confirme as reservas anunciadas por cada país, a tentação de inflacionar o valor é muito elevada uma vez que quanto maior for este valor, maior é a quota anual de produção permitida. O mundo tem toda a sua máquina produtiva alicerçada em estimativas de petróleo absolutamente falaciosas, sem qualquer controlo independente e credível.
A insegurança que se instalou sobre as quantidades de Petróleo disponível e, consequentemente, sobre o seu preço no médio e longo prazo, provocaram uma onda de incerteza que retraiu, globalmente, o investimento e tornou a economia mundial refém de uma energia incerta.
Só voltaremos a assistir a nova pujança e fulgor económico quando for adoptada uma energia alternativa, certa e infinita.
Sempre que há sinais de retoma económica os preços do petróleo disparam provocando nova retracção. É assim desde há 40 anos, o sinal é claro: as reservas de crude já não suportam a máquina de produção instalada.
Não é necessário esperar por qualquer descoberta fabulosa, basta estruturar, desenvolver e potenciar a rede de produção e distribuição de energia eléctrica, gerada por via das fontes renováveis e da energia nuclear, para inaugurar um novo ciclo.
A tecnologia de produção por via de fontes renováveis, actualmente disponível, permite fornecer seis vezes mais energia do que aquela que o mundo consome. A tecnologia já cumpriu a sua missão, oferece alternativa com viabilidade comprovada quer em eficácia quer em custos.
As fontes de energias renováveis são bens públicos, não concorrentes no consumo, ao serviço do progresso e do desenvolvimento de todos aqueles que a queiram e saibam aproveitar.
Terá de ser este o caminho da Europa. A Europa terá de se diferenciar, de se afirmar pela Energia.
Tem de ter a energia mais barata do mundo, para poder ser a mais competitiva, para recuperar a produção industrial e pagar os melhores salários.
Será a verdadeira nova fronteira, onde o acesso à energia, por todos os Estados membros, será o passaporte do mérito, do saber e do esforço para a prosperidade.
A lógica que esteve presente em: “it’s Economy stupid” (Bill Clinton campanha de 1992), reclama uma nova e arrojada reformulação: It’s Energy stupid!