Para quem não acredita no retorno, seja qual for a sua forma, talvez o melhor título desta crónica seja exercício de memória. Mas lembrarmos alguém, mesmo com grande frequência, dificulta o diálogo, apenas permite recordar episódios, sentimentos, proximidades, afastamentos. A ideia de ressurreição, em que não acredito, mas consigo construir, ajuda-me a conversar. Este texto não é sobre nenhum doente, verdadeiro ou inventado, é sobre a minha irmã, que morreu há cinco anos e que não pode ser esquecida. Trabalhou muito, num ofício que também é o meu, expôs-se muito pouco, ao contrário de mim. Mas deixou uma marca forte em quem a procurou para se compreender melhor e diminuir o sofrimento. Para estes não é preciso reavivar a memória, ela continua bem presente. Passados estes anos alguns vêm ter comigo, sem os conhecer, e dizem-me: a sua irmã salvou-me.
Exclusivo
Exercício de ressurreição
Alguma vez nos deixa no tempo certo alguém de quem gostamos?