Exclusivo

Opinião

O triunfo dos coxos

O futebol tornou-se previsível, as seleções jogam todas da mesma maneira, já não há diferentes culturas de jogo. As pátrias já não calçam chuteiras

Eu continuo a ver futebol pela mesma razão que continuo a ver “Star Wars”: é um tributo à minha infância, mas sei que é mau. Lamento, mas o futebol perdeu o encanto. Não é por acaso que estrelas recentes, como o R9, afirmam que não têm saco para ver os jogos de hoje. O futebol tornou-se previsível, as seleções jogam todas da mesma maneira, já não há diferentes culturas de jogo. As pátrias já não calçam chuteiras. E, se não há culturas diferentes, também não há indivíduos diferentes. Já não há rebeldes ou artistas dentro de campo. O futebol dito moderno matou o indivíduo, matou a liberdade e o risco. É raro vermos um drible, uma ginga, uma revienga, porque estes miúdos foram educados a respeitar a máquina, o sistema, o ego do treinador general, o “plano de jogo”. Se vai para cima dos adversários para iludi-los com fintas, um miúdo à Quaresma ou à Futre é chamado à atenção. Isto é como dizer a um jovem pintor que não pode pintar por impulso, por gosto, por paixão, por prazer, porque é divertido. É como pedir a um violinista que toque ferrinhos, é pegar num Ferrari e transformá-lo num Fiat. Aliás, é isso que Roberto Martínez está a fazer à seleção: conseguiu transformar bólides em carochinhas. Há um lugar especial no inferno para estes idiotas da objetividade, que, por não compreen­derem o génio livre, acabam por proibi-lo.