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Opinião

As lições de Hoover

Hoover tinha dossiês sobre políticos que usava para garantir o seu poder. Em Portugal, as escutas já não são um instrumento de prova, mas um sistema de vigilância política. E, com a comunicação social neutralizada por uma relação de dependência, o temor dos políticos e a conivência de alguns juízes, o MP está cada vez mais audaz

J. Edgar Hoover, diretor do FBI entre 1935 e 1972, tinha dossiês sobre políticos que usava quando os queria atemorizar ou destruir. O objetivo não era garantir a segurança interna, mas o seu próprio poder. Fazia-o sem consequências para si, porque ultrapassou o limite de poder que a lei consegue conter. E assim, sem nunca ter ido a votos, teve um razoável controlo sobre a política norte-americana durante 37 anos. O pretexto era o comunismo, mas podia ter sido a corrupção. E o que acontece com pessoas que concentram demasiado poder também pode acontecer com instituições ou corporações. É por isso que a defesa da democracia vive da tensão permanente entre poderes que se contêm mutuamente. A naturalidade com que se leram e debateram transcrições de escutas telefónicas de conversas estritamente políticas entre um primeiro-ministro e o seu ministro é a demonstração de que isso deixou de funcionar em Portugal.