É fascinante que um festival de péssima música tenha saído do esquecimento em que, para lá de alguns países mais a leste, vivia. E mais intrigante que tenha sido apropriado pela comunidade LGBT, ao ponto da única bandeira autorizada no recinto, para além da das dos países concorrentes, ser a do arco-íris, numa improvável aliança com nacionalismo cançonetista.
Seja como for, ganhou relevância para não poder deixar de ser, como são todos os acontecimentos em que estão envolvidas representações oficiais dos países (ainda mais de televisões estatais), um momento político. E é especialmente difícil insistir no seu caráter “apolítico” quando se deixa participar um Estado que está a provocar uma das maiores catástrofes humanitárias deste século depois de ter suspendido a Rússia – e bem, porque ao contrário do bloqueio a músicos e artistas, esta suspensão é a uma delegação da televisão estatal. A incoerência da European Broadcasting Union (EBU) reproduz a hipocrisia europeia em relação aos dois conflitos e não podia ser mais política, no pior sentido da palavra.