Tento não ser apanhado de surpresa pelos novos movimentos sociais, pelos conceptualismos contemporâneos. Não é fácil. Há dias, tive de reler com muita atenção um texto em que se explicava que “os conservadores americanos estão alinhados com as feministas britânicas no argumento de que a revolução sexual prejudicou as mulheres”. O texto, aliás, intitulava-se “A defesa ‘feminista’ contra sexo por divertimento” (Vox, 23 abril). Que os sectores mais retrógrados da sociedade americana defendam o “sexo só para procriação” não é muito espantoso. Já a existência de um “feminismo contra o progresso” exige mais “abertura” mental. Argumentam que a pílula contracetiva desprotegeu a mulher na maternidade solteira e na exploração sexual; e que levou o feminismo a focar-se num individualismo excessivo no que respeita à libertação da mulher, e não na mudança dos valores do capitalismo. Os contracetivos deixaram as mulheres mais vulneráreis aos predadores. Portanto, conservadores e feministas contra o sexo recreativo. É surpreendente, mas não é nada que nos venha a apoquentar.
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Radiografia imperfeita da modernidade
TERF, “lugar da fala”, pronomes, Teoria Crítica da Raça. Não vamos conseguir fugir do presente