Quem navegue pelo espaço noticioso norte-americano já terá ouvido falar de Alex Jones — um conspiracionista irado, um urso barbudo de carótidas a explodir, que da sua plataforma InfoWars propagandeou as mais bizarras teorias, algumas com apoio de Trump, e acabou expulso de todas as redes sociais, e reintegrado por Elon Musk no X em prol da “liberdade de expressão”. Aqui de longe, Jones é uma aberração. A sua grande luta era “provar” que a carnificina ocorrida em 2012 na escola de ensino básico Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, onde 20 crianças e seis professores foram brutalmente massacradas por um tipo de 20 anos com uma arma de guerra, tinha sido uma encenação do Governo elaborada com atores para pôr em causa a Segunda Emenda (o direito de usar armas). O documentário “The Truth vs. Alex Jones”, da HBO, mostra um dos julgamentos em que os pais conseguiram fazer com que Jones admitisse que “estava 100% errado” — mas isso já não interessa para nada. Em 2024, uma dúzia de anos após o massacre (um, apenas um, entre centenas dos que ocorrem dos EUA), 25% dos americanos estão convencidos de que “Sandy Hook foi um embuste”. O que teve e terá consequências. Um dos pais, que deu um depoimento no dia seguinte às televisões, estava tão fora de si que esboçou um sorriso aparvalhado antes de começar a falar — foi tido como sendo “a prova” de que era “um ator a entrar em personagem”. Mudou 7 vezes de casa devido às ameaças de morte. Outro, que agarrou no filho de 6 anos nos braços, assassinado com um tiro na cabeça, foi acusado de ser mentiroso. E por aí fora. Os pais que perderam os filhos a tiro de arma automática passaram anos a provar que estes tinham existido. E tendo existido, tinham efetivamente sido assassinados. Alex Jones é um ser monstruoso, cujo objetivo foi vender “vitaminas” duvidosas. Mas há 75 milhões de americanos que continuam hoje, em 2024, convencidos de que aqueles pais nunca enterraram os seus filhos. Que são atores. “Falhei ao meu filho duas vezes: quando viveu e quando morreu”, diz um deles quando o interpelam e acusam de ser um ator. Mas há que ver a big picture, o todo.
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Como as conspirações tomaram a Democracia
Provar que o filho existiu para demonstrar que foi assassinado. As teorias da conspiração substituíram o bom senso