Os prédios da rua de cima têm um logradouro extenso que parece um jardim inglês pintalgado com uns tufos de pomar tuga. É lindíssimo e decora as traseiras do meu prédio. Apesar de viver no centro de Lisboa, sinto que estou numa encosta silvestre. Só que este espaço é desperdiçado. Sei que há crianças por ali, mas nunca as vejo a subir às árvores, a escavar a terra ou só a correr. As nêsperas já reluzem, mas sei que ninguém as vai apanhar em maio. Subir às árvores passou a ser proibido nesta infância aprisionada por pais demasiado ansiosos e obcecados com o controlo que mata a liberdade física e o seu risco inerente. E esta infância enquanto masmorra é uma peça partilhada por dois dos grandes debates em curso: a ansiedade dos jovens e o tal ambientalismo radical da juventude.
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Ninguém apanha as nêsperas
O problema dos jovens não começa nos telemóveis, começa nesta paternidade paranoica que entra em contradição: não dá liberdade física no mundo real, mas dá liberdade total na net