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Opinião

Um Presidente, uma maioria, um Governo, uma oposição...

Com 29%, Montenegro quer cumprir o sonho de Sá Carneiro aditivado: um Presidente do seu campo, uma maioria que não tem, um Governo que não negoceia e uma oposição que não se opõe. Não quer estabilidade. Quer tudo ou nada. “Tudo” é governar como se tivesse maioria absoluta, “nada” é ir a eleições rapidamente, responsabilizando o PS e engordando o Chega

Na juventude, tinha uma amiga bastante discreta que, desmentido com autoironia o seu excesso de humildade, dizia que as pessoas tomavam o seu silêncio por inteligência e mistério quando, na realidade, nada tinha para dizer. Enganava-se ela, não se enganaria Luís Montenegro. O seu paupérrimo discurso, em que se limitou a repetir umas frases soltas sobre o programa da AD, revelou que a tática do silêncio serve para lhe garantir a gravitas que as suas palavras lhe negariam. Diz-se que o conselheiro é Cavaco Silva. O ritmo não é o do seu tempo e hoje até o silêncio se esgota depressa. Quando falou, Montenegro tinha duas coisas para dizer: que o festival de promessas e o seu fantasioso cenário macroeconómico não eram para levar a sério e que pretendia governar como se tivesse maioria absoluta. É de um Cavaco ressuscitado que vem o mais perigoso conselho a Montenegro: repetir 1987. Só que, nesta reprise das “forças bloqueio” e do “deixem-me trabalhar”, não querem que o PRD seja Chega, mas o PS. E é por isso que o PSD está a brincar com o fogo, trabalhando para a desestruturação do sistema partidário.