Antes das próximas eleições legislativas ainda há Europeias, que podem ser resumidas em três grandes preocupações políticas: geopolítica, economia e Portugal. E três grandes temas eleitorais: impactos económicos das respostas às alterações climáticas, imigrações e, de um modo geral, populismo.
A guerra da Ucrânia resume bem a questão geopolítica: a Rússia quer alterar, pela força, a ordem de segurança e paz no continente, impondo a sua. A China espera que a Europa esteja ocupada com a Rússia, e que os Estados Unidos percam prestígio e poder com uma guerra em que não ganham nem parecem ser capazes de ajudar a ganhar. Além disso, com a guerra a Europa percebe que não pode contar sempre, nem só, com a América. A segurança europeia passou a ser, antes de tudo, um problema dos europeus. Sendo que, não vá alguém em Bruxelas estar distraído, os britânicos são europeus.
Na a economia, a Globalização não acabou. Mas está em curso uma reglobalização, que é o processo de mudar as rotas e as ligações comerciais, reduzindo, aproximando e comerciando com menos interdependência. Neste processo, a Europa pretende relocalizar no Continente grandes indústrias, recuperar empregos, importar menos e exportar mais. E ser capaz de subsidiar parte disto tudo. Acontece que os Estados Unidos da América competem com essa criação dando mais subsídios e benefícios do que a maioria dos países europeus pode dar. E a redução da dependência da China pode dar novos empregos, mas vai retirar aos menos ricos o acesso a muitos produtos baratos. O que uma mão vai dar, a outra vai tirar. E quanto a isso de comerciar menos e subsidiar mais, nem todos os europeus estão de acordo. Ainda esta semana, a propósito da defesa, a nova indústria preferida dos políticos europeus, o primeiro ministro sueco, Ulf Kristersson, de centro direita, explicou ao Financial Times que os suecos não são proteccionistas por natureza. “Gostamos da ideia de uma cooperação mais estreita [com países terceiros], não só porque temos uma indústria militar que poderia realmente beneficiar de mercados mais amplos e abertos, mas porque essa é a nossa abordagem normal ao comércio, para remover barreiras e coisas dessas”.
Antes de falarmos de Portugal, olhemos para as três grandes questões eleitorais. Impactos económicos das políticas de resposta às alterações climáticas, imigrações e multiplicação dos populismos.
Foi preciso uma eleição nos Países Baixos, sondagens na Alemanha e, finalmente, várias manifestações de agricultores mais duras do que o costume, para se descobrir que nem toda a gente acreditava que as políticas do Pacto Ecológico iam, ao mesmo tempo, salvar o Planeta e criar oportunidades de negócio. Antes que as eleições se transformem num grande Quem Quer Casar com o Agricultor?, espera-se para ver se há um equilíbrio que mostre que se percebeu que há políticas de resposta às alterações climáticas que são necessárias e criam oportunidades, há políticas que não salvam grande coisa o planeta, mas criam enormes prejuízos económicos, e há políticas que são úteis, são necessárias mas têm custos. E, ou alguém suaviza o impacto desses custos, ou quem se sente prejudicado vai votar com fúria.
Nas imigrações, as coisas não são completamente diferentes. O sistema, como está, oferece a quem consiga entrar ilegalmente – normalmente correndo enormes riscos de vida - uma situação de limbo ilegal que facilmente faz de quem chega um cidadão marginalizado e alvo fácil de abusos. Ou seja, há regras, não são cumpridas, não há aplicação da lei à entrada, nem cá dentro, seja para impor regras a quem chega imigrado, seja para proteger quem cá está imigrado ou refugiado. O caldo ideal para larvar o ressentimento generalizado. E para se pegar nuns casos isolados e que contrariam as estatísticas, e criar a ideia de que os imigrantes são a causa dos problemas.
Sobre o populismo, já tudo foi escrito: multidões de insatisfeitos por razões diversas, com frequência opostas, a quem é garantido que a culpa é de quem manda, e a solução é radicalizar as políticas. O sucesso eleitoral está à vista pela Europa fora.
E Portugal? O que deve Portugal querer desta Europa, tão completamente diferente daquela a que aderimos em 1986? Se continuar a ser sobretudo fundos, vai correr mal.