Os objectivos dos partidos no sufrágio do próximo domingo são, necessariamente, distintos. Uns (mais propriamente dois) lutam pela vitória. Outros para fazerem prova de vida (leia-se, para procurarem melhorar a sua reduzida representação parlamentar ou, no limite, para conterem os estragos). Outro para reafirmar a sua vocação de “elefante na loja de porcelana”, tentando, por via de um comportamento disruptivo (para não lhe chamar politicamente grosseiro) obter apoio por parte dos mais descontentes.
As sondagens indicam que haverá, ainda, um número elevado de indecisos. Mas que essa indecisão balança, fundamentalmente, entre votar na AD ou no PS. O que, como é óbvio, constitui má notícia para todos os demais e os levará a tudo fazer para contrariar essa tendência.
Com exceção de uma, as sondagens apontam para maior probabilidade de vitória da AD e, sobretudo, para o acentuar dessa tendência. Nada está ainda, contudo, garantido. E, como diz o povo, até ao lavar dos cestos é vindima.
Sempre discordei das leituras que pretendem reduzir as campanhas eleitorais a uma escolha entre personalidades. E a que está em curso, felizmente, tem sido esclarecedora (diria mesmo, muito esclarecedora) quanto à contraposição entre os programas e os projectos políticos em presença. Mas isso não deve, ainda assim, diminuir a importância de avaliar a competência e a credibilidade patenteadas por aqueles que, no dia seguinte, poderão ser chamados a liderar, à cabeça do Governo, esses programas e projectos.
Para quem o não conhece bem (e só para esses), Luís Montenegro tem surpreendido pela consistência das suas posições e pela serenidade com que as transmite. Para além disso, tem sido eficaz na forma como comunica. E tem tido sucesso na correcção de afirmações menos felizes ou, até, desastradas, que alguns apoiantes têm trazido á campanha, afirmando a sua autoridade. A postura que tem assumido traz-me à memória o slogan “A força tranquila”, que François Mitterrand adoptou na sua campanha vitoriosa para as eleições presidenciais de 1981.
Em desespero de causa, e como por vezes sucede nestes momentos, os seus adversários (em particular os socialistas) acenam com o fantasma da sua falta de experiência. Sem razão, porém.
É certo que Luís Montenegro nunca exerceu funções governativas. Mas, quando foi líder parlamentar do PSD, demonstrou já um domínio aprofundado e alargado de todas as matérias relevantes para a governação. E, ao longo dos últimos anos, reforçou, se necessário fosse, o seu conhecimento delas.
O PS, aliás, com vantagem estaria calado nesta matéria. Então António Guterres alguma vez tinha sido membro do Governo quando, em 1995, ascendeu ao cargo de Primeiro-Ministro? E tinha, sequer, exercido qualquer função executiva, ao menos no poder autárquico?
Acresce que, do meu ponto de vista, o argumento nem sequer colhe. É que o facto de se ter experiência desse tipo não é garantia de coisa nenhuma. Veja-se o Eng.º José Sócrates, que fora Secretário de Estado uma vez e Ministro duas vezes, e cujo desempenho como Primeiro-Ministro foi o desastre que todos conhecemos.
À saída da assembleia de voto onde exerceu antecipadamente esse seu direito, o Presidente do PS, Carlos César, naquilo a que eu chamaria um momento de humor, afirmou que “Pedro Nuno Santos é claramente melhor que Luís Montenegro”. E explicou o porquê dessa sua convicção. Porque cresceu num ambiente familiar que acompanhou o desenvolvimento das empresas, das pequenas e médias empresas (!). Porque é um economista bem preparado. Porque tem uma proximidade em relação ao país real que o líder do PSD não tem.
Mas, para além dessas considerações serem risíveis, a verdade é que nunca incluiu no rol de panegíricos a qualidade de Pedro Nuno Santos enquanto Ministro. E, como político experimentado que é, Carlos César não deixou isso de fora por acaso ou por esquecimento.
De facto, em matéria de governação a prestação do Secretário-Geral do PS fala por si, sem necessidade de adjectivação adicional: a forma como lidou com a questão da TAP e os 3,2 mil milhões de euros de recursos públicos que ali gastou, a cena do anúncio, à revelia de António Costa, da solução para o novo Aeroporto de Lisboa, o episódio da indemnização a Alexandra Reis, que primeiro desconhecia e que, afinal, tinha tido o seu acordo, o agravamento insuportável da crise no domínio da habitação, os atrasos sucessivos na aplicação do programa ferroviário.
Não é demasiado, assim, dizer que a acção governativa de Pedro Nuno Santos não é currículo. É cadastro. E até isso deveria levar o PS a desvalorizar a relevância do argumento relacionado com a experiência.
Por seu lado, a campanha não ajudou, em nada, a apagar essa imagem de impreparação e de volatilidade, bastando recordar o modo como foi mudando de opinião, ao sabor das conveniências do momento, no que toca à questão dos possíveis cenários pós-eleitorais.
E, francamente, pode-se levar a sério alguém que sempre esteve solidário com a actuação dos Executivos do seu partido e que agora vem dizer que desta vez é que, com os mesmos personagens, os problemas do País e das pessoas vão mesmo ser resolvidos?
A escolha entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos não é, pois, difícil. E estou confiante que, na altura decisiva, os eleitores saberão reconhecê-lo.