Alexei Navalny sabia que podia morrer assim, deu-se à morte assim, todos sabiam que podia morrer assim, e, todavia, por mais inevitável que fosse, a sua morte no restaurado goulag russo surge-nos como coisa insuportável, um sentimento de impotência final de impedir o triunfo do mal sobre o bem. Lembramo-nos das imagens do seu absurdo regresso a Moscovo, voltando à vida depois de envenenado na Sibéria — “o paciente de Berlim”, como lhe chamava então Putin —, e perguntávamo-nos então e perguntamo-nos agora porquê, para quê? Lembramo-nos das imagens de Navalny logo abalroado por guardas ainda dentro do avião acabado de aterrar em Moscovo, despedindo-se da mulher desenhando um coração no ar e sabendo que provavelmente nunca mais iria poder apertá-la nos braços. Porquê, para quê voltar?
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Heróis e vilões
Morto Navalny, Putin deve experimentar a mais desesperada solidão dos ditadores: olhar à volta e perceber que já não lhe resta um amigo nem um inimigo