Num ano em que os portugueses serão chamados a votar em duas ou três eleições, pelas últimas contagens, é tentador desvalorizar a importância do voto ou, preguiçosamente, reduzi-lo a um ritual cansado ou irrelevante. A existência de eleições livres e regulares, em que cada e todos os cidadãos são donos de um voto que podem usar à discrição depois de um período de debate público entre partidos, não chega para fazer uma democracia saudável, mas são essas eleições livres condição absolutamente necessária para construir democracia. O voto não é a galinha dos ovos de ouro da democracia, mas não podemos passar sem os seus ovos. Trocar a rua, a violência, até a revolução, por uma contagem simples e transparente da vontade de todos é, sim, um verdadeiro avanço civilizacional. Abandonar a “legitimidade revolucionária” e a “democracia na rua” por esse ritual domingueiro feito de aritmética simples, sem espinhas, é a grande conquista da saga da decisão coletiva. Passámos por muito para aqui chegar, nós, humanos; nós, portugueses. Todas as sociedades adultas substituem o jogo do “pimpampum, cada bala mata um”, pelo exercício do cada voto escolhe um.
Exclusivo
As eleições como matemática da alma
O voto não é a galinha dos ovos de ouro da democracia, mas não podemos passar sem ele