Exclusivo

Opinião

Um silêncio nada inocente

O PSD exige que o PS se comprometa a viabilizar um Governo do PSD se este ficar em primeiro, mas recusa o compromisso inverso. O estranho silêncio de Montenegro não foi embaraço. Quer o melhor dos dois mundos: o Chega serve para impedir o PS de governar, se ganhar, e para impedir o PS de fazer oposição, se perder

O spin da AD passou uma semana a tentar transferir para o PS a pressão do risco da sua aliança com o Chega. E escolheu o pior exemplo: os Açores. A tese é que o PS tem o dever de viabilizar o Governo de Bolieiro para impedir a aliança que o próprio Bolieiro fez em 2020, quando perdeu, e que já deixou claro não ter qualquer problema em reeditar em 2024. Que o PS deve salvar o PSD do PSD. Como a aprovação do programa do Governo Açores será depois de 10 de março, não veremos o que todos sabemos: o Chega vai viabilizar o Governo de Bolieiro. E o recuo de Ventura, que começámos a ver nos Açores, já se sente no país, assumindo a possibilidade de aprovar ponto a ponto, à semelhança do que aconteceu à esquerda entre 2019 e 2022. Saltando dos Açores para o continente, o PSD e o seu exército de comentadores exigem que o PS se comprometa a viabilizar um Governo do PSD se este ficar em primeiro. Seria natural que, em troca, o PSD se comprometesse a viabilizar um Governo minoritário do PS se for o PS a vencer. Só que não. O PS não se pode unir ao Chega para derrubar um Governo do PSD, mas o PSD pode unir-se ao Chega para derrubar um Governo do PS. Montenegro não aceita trabalhar em cenários de derrota, mas exige que Pedro Nuno Santos o faça.