Começo por dizer que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão e a ansiedade ligadas ao trabalho causaram a perda de cerca de um milhão de biliões de euros na economia mundial.
Estes números são preocupantes, não só do ponto de vista financeiro, mas essencialmente do ponto de vista de saúde publica e bem estar da nossa comunidade laboral. A saúde mental é um problema flagrante, que se tem refletido em consequências imensuráveis a vários níveis na sociedade portuguesa e globalmente.
Encontramo-nos a viver um momento em que as dinâmicas laborais passaram a sofrer, de repente, quase de um dia para o outro, e mercê das sequelas da pandemia de COVID, de uma grande ambiguidade e complexidade, causando uma profunda incerteza sobre cada momento que fez incrementar enormemente os níveis de ansiedade em contexto de trabalho.
Apesar de todas as inovações - nas formas de estruturação do trabalho, nas novas perceções de relacionamentos dentro e fora das organizações, das competências atuais reforçadas para entender aspetos emocionais e comportamentais e mesmo diante do que vivemos numa pandemia que trouxe consigo um maior ênfase no cuidado e na importância na saúde mental, seja em qualquer contexto, social ou profissional - constata-se que a maioria das pesquisas realizadas durante esse período indicam um agravamento nos impactos das questões ligadas à depressão nas empresas.
Acresce que, segundo Small Business Price, Portugal é o país da União Europeia com maior risco de depressão.
Como explicamos isso?
Uma explicação poderá residir na geração que constitui hoje uma grande parcela da força laboral, a geração FOMO - Fear of Missing Out: uma geração em que nunca nos foi tão fácil ver os outros. Mas nunca nos foi tão difícil ouvir os outros.
Olho para o mundo ao meu redor e vejo uma sociedade de jovens que anseia por tudo, procurando o seu lugar neste palco cada vez maior, obcecados pelo seu lugar ao centro. É como se a voracidade pelo sucesso, pelo prazer e reconhecimento se tivesse transformado numa epidemia coletiva, levando-nos a um estado constante de agitação. Numa procura do ter em detrimento do ser. Neste turbilhão de desejos desenfreados, muitas vezes pergunto-me se a procura pelo 'tudo' não nos leva na verdade a um vazio profundo.
A pressão atual do mundo para estar sempre ligado, impulsionada pela cultura de trabalho contemporânea, tem contribuído para níveis elevados de stress no ambiente profissional.
Se há alguns anos a doença mental era tabu, nos últimos tempos começou a verificar-se uma abertura em relação ao tema e a pandemia - como referido acima - aportou-nos alguma introspecção e alguma capacidade de reflexão sobre o tema, apesar de ainda ser de difícil explicação, reconhecimento e diagnóstico.
O impacto da "geração FOMO" não é apenas individual; estende-se no âmbito corporativo, numa procura constante por mais, acompanhada pela necessidade de maior sensibilidade e conhecimento dos líderes face à gestão das necessidades emocionais e saúde mental, bem como a física. Este deve ser um pilar essencial nas preocupações dos gestores das empresas.
A OMS alerta que, se não for abordado, a “geração FOMO” pode ter consequências sérias no futuro para o bem-estar emocional e físico. A ansiedade e a depressão tornaram-se as principais causas de incapacidade em todo o mundo, afetando mais de 300 milhões de pessoas globalmente.
É necessário, cada vez mais, todo um trabalho legislativo e estratégias baseadas em evidências como programas de Mindfulness e a promoção de limites saudáveis entre a vida pessoal e profissional.
Qual é o papel dos líderes? É tudo, ou quase tudo.
Como podemos contribuir para que tudo corra melhor?
Devemos erradicar o excesso de burocracias na empresa, ou melhor, o excesso de normas. A falta de autonomia deve ser substituída por uma delegação de funções consciente, capaz e autónoma. É crucial encerrar o ciclo da impossibilidade de tomar decisões sem obter autorização de outrem, bem como lidar com normas institucionais muito rígidas e comunicação ineficiente dentro da equipa.
Acrescento a esta lista evitar a procura incessante pela perfeição online, que também se reflete nas expectativas excessivas impostas aos colaboradores: há uma sede insaciável por mais, por melhor e por diferente, queremos tudo e queremos agora. A tecnologia oferece-nos um cardápio interminável de sonhos instantâneos.
Além de todas estas medidas, é importante promover ambientes de trabalho mais flexíveis e implementar iniciativas que permitam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, normalizando o "Direito de Desligar".
Defendo e acredito que os erros devem ser encarados como oportunidades de crescimento, cultivando e desmistificando a ideia errada da perfeição. Somos pessoas e é importante valorizar a vulnerabilidade e desencorajar a "máscara da perfeição”. Podemos optar por ser mais conscientes, mais gratos, mais autênticos. Podemos encontrar a nossa própria definição de sucesso e felicidade, independentemente das expectativas alheias. Podemos aprender a desejar menos, a apreciar mais e a viver de forma mais plena.
Tenho esperança de que esta nova geração possa resgatar a sanidade no meio da loucura do mundo que vivemos.
Afinal, a verdadeira loucura consiste em perseguir um ideal inalcançável, em vez de abraçar a beleza imperfeita da vida como ela é.
As sociedades modernas transformaram-se num canteiro de pessoas que fogem de si mesmas, solitárias no meio da multidão, seja nas escolas, nas empresas ou nas famílias.
Viver é uma grande aventura.
Quem permanece preso num casulo com medo dos acidentes da vida, para além de não os evitar, será sempre frustrado.
Procuremos o equilíbrio na vida, entre aquilo que desejamos, aquilo que alcançamos e a alegria de usufruir disso, pois só estamos aqui uma vez.