Muitos têm dito, com razão, que Israel tem direito a defender-se. É um direito universal de todos os povos. Mas raramente se faz a pergunta ao contrário: os palestinianos têm direito a defender-se? A pergunta não é sobre o Hamas. É sobre os milhões de palestinianos que têm estado fora de todos os discursos. E ela está longe de ser retórica para quem vive sob ocupação na Cisjordânia e totalmente isolado do mundo em Gaza (e agora bombardeado de forma indiscriminada). São vítimas de um ataque quotidiano, da limitação severa de direitos elementares e da total recusa do seu direito à autodeterminação.
Poderia fazer aqui a descrição do inferno quotidiano nos territórios ocupados, a que assisti, ou do que vi e senti em Gaza. Mas tenho tentado deixar de lado a emoção num tema que me emociona muitíssimo. Acho que no meio da tragédia e da polarização, apelar à racionalidade não é apelar ao cinismo. É apelar ao que tem faltado.
Voltando à pergunta: excluindo sempre ataques a alvos civis, os palestinianos têm direito a defender-se? Da mesma forma que só consigo debater com quem conceda esse direito aos israelitas, só consigo debater com quem o aceite para os palestinianos. A pergunta que interessa é, então, como se podem ou devem defender.