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Opinião

A diplomacia do cancelamento

Israel considerou “inconcebíveis” os apelos humanitários do Papa. E o embaixador em Portugal anunciou que o país cancelará a presença na WebSummit, pedindo às empresas que façam o mesmo. É verdade que a WebSummit vai para o Qatar, que quer competir com Israel. Mas talvez eu esteja a dar racionalidade diplomática a quem apenas vive mal com o pluralismo

O embaixador de Israel em Portugal anunciou que o seu país iria deixar de participar na WebSummit em Lisboa, “encorajando” as empresas a fazerem o mesmo. Na origem desta tentativa de cancelamento, para usar um termo em voga, estão as “declarações ultrajantes proferidas pelo Diretor Executivo da conferência, Paddy Cosgrave". Para Dor Shapira, o fundador da WebSummit revelou-se "incapaz de pôr de lado as suas opiniões políticas extremistas e de denunciar as atividades terroristas do Hamas contra pessoas inocentes".

É falso. Quando Shapira escreveu este comentário no Twitter, Cosgrave já tinha escrito vários tweets onde refere que o que “Hamas fez é escandaloso e repugnante”. Mas, nessa publicação, onde partilha um vídeo de um apresentador irlandês (como ele) cujo pai foi assassinado por um grupo paramilitar protestante, traça uma analogia com o fim do conflito armado na Irlanda do Norte: “O caminho para a paz na Irlanda exigiu que duas partes, que tinham perpetrado todos os atos inimagináveis de desumanidade uma contra a outra, se sentassem finalmente. A paz parecia impossível, o ódio e a divisão eram incompreensivelmente profundos, mas acabou por acontecer um milagre. Esse milagre foi a paz”. O apelo a uma solução negociada passa por “opiniões políticas extremistas”. E disse que crimes de guerra são crimes de guerra, mesmo quando cometidos pelos nossos aliados. Foi critico, sem nunca ser ofensivo.