Ascensão em bloco ou admissão de fracasso?
Os BRICS decidiram recentemente alargar o bloco convidando mais seis nações, – algumas delas bastante poderosas, quer a nível político, quer a nível económico, comercial ou militar – uma atitude que, das duas uma: ou reflete a falta de progresso no aprofundamento da atual aliança ou tem ambições bem maiores do que aquilo que imaginamos.
O atual bloco representa um terço do Produto Interno Bruto (PIB) global e quase 50% da população mundial, tendo bastantes interesses divergentes que vão desde a ascensão da China como superpotência global ao estatuto do Brasil como exportador agrícola.
Os desafios internos da aliança
Embora as agendas económicas dos BRICS e dos seis novos convidados estejam alinhadas, a instabilidade política e económica interna, os diferentes interesses geopolíticos, o desacordo sobre a reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e as disputas territoriais entre a Índia e a China colocam obstáculos à cooperação e ao crescimento contínuos dos BRIC.
Para além disso, fatores como o declínio do investimento estrangeiro e o abrandamento económico na China diminuíram o seu desenvolvimento.
A construção de novas parcerias
Para o Presidente russo, Vladimir Putin, e para o líder chinês, Xi Jinping, a decisão de admitir o Irão permite dar ao grupo um tom ainda mais anti Ocidente e antidemocrático. Por sua vez, o Irão procura uma forma de contornar as sanções por parte do Ocidente. No fundo, uma mão lava a outra.
Admitir a Arábia Saudita e os EAU – dois dos maiores produtores e exportadores do mundo de petróleo e gás – representa uma parte muito significativa da economia global, o que poderá ter um impacto gigantesco nos mercados globais.
A Argentina enfrenta graves problemas económicos e a integração no bloco acaba por ser uma potencial tábua de salvação. A possibilidade de consolidar os mercados existentes e de ingressar em novos mercados, de aumentar o investimento que entra, de criar empregos e de aumentar as importações poderá ser decisiva para o futuro do país.
Politicamente, o crescimento da extrema-direita na Argentina poderá consolidar as relações com os membros do bloco.
O Continente africano é muito disputado por EUA, Rússia e China e, por isso mesmo, a integração da Etiópia e do Egipto será um passo em frente nas aspirações dos BRICS e mais um fracasso para os norte-americanos.
Para os BRICS, garantir a adesão tanto da Etiópia como do Egipto diminui a influência ocidental numa região que cada vez mais se apoia em Pequim economicamente e em Moscovo militarmente (leia-se negócio de armas).
A Etiópia, o único país de baixo rendimento do grupo, mantém tradicionalmente laços estreitos com a Rússia e a China – o seu principal parceiro comercial, e tanto Etiópia como Egipto aproveitam as políticas de não-interferência dos BRICS para abusarem dos seus poderes.
Já o Brasil e a Índia, desde o início hesitaram na expansão do bloco, afirmando que o alargamento poderia enfraquecer a aliança e prejudicar os seus próprios laços com os EUA.
No entanto, a adesão dos EAU e da Arábia Saudita acabou por apaziguar significativamente as preocupações dos dois países - nomeadamente da Índia que recentemente aumentou as suas importações de petróleo da Arábia Saudita - uma vez que os países do Golfo Pérsico são parceiros próximos dos EUA e acolhem tropas norte-americanas.
A África do Sul, para além de ter sido o país que recebeu a tão importante Cimeira dos BRICS, utilizou a Cimeira para prosseguir as suas prioridades de política externa, já para não falar no facto de ser uma potência regional muito influente e uma porta de entrada para o Continente africano.
A mudança
A expansão dos BRICS representa uma mudança no paradigma mundial: os EUA não mais definirão todas as normas nem dirigirão todas as instituições.
Aquilo que está em cima da mesa é uma oferta de uma ordem mundial alternativa para a qual os autocratas se possam sentir seguros. Assim, poderá haver uma direção alternativa de desenvolvimento sem que haja imposições por parte dos EUA e das potências europeias.
É claro aquilo que o bloco pretende para o futuro. No entanto, ficam as dúvidas quanto à capacidade em aumentar a sua influência no cenário global, visto que com os novos membros que irão integrar o bloco a partir de janeiro de 2024, este acaba por ficar com uma mistura de autocracias poderosas e democracias de rendimento médio e em desenvolvimento.