Sabermos falar e escrever em bom português é essencial em todos os campos do conhecimento. No campo da Educação, o ensino da nossa língua deve, pois, ser exigente e, ao mesmo tempo, motivante. Contudo, quando falamos com alunos de vários anos letivos, percebemos facilmente a desilusão de muitos deles com a disciplina, além de ser notório que os conhecimentos adquiridos estão muito aquém do desejável e, mais do que isso, do que se constitui como necessário.
Acredito que aprender a língua portuguesa vai bastante além da utilização de manuais, muitos deles, aliás, com atividades pouco dinâmicas e com questões mais de forma do que de conteúdo. Pensemos, por um momento: como posso, como professora de português, motivar os meus alunos, por exemplo, para o estudo d’"Os Lusíadas" sem, previamente, fazer a devida contextualização histórica da obra e dar a conhecer o seu autor? Não como uma personagem longínqua e inatingível, não como o escritor imortalizado, mas como homem que foi, como pessoa que um dia existiu como qualquer um de nós, ainda que em circunstâncias diferentes, mas partilhando características comuns aos homens de todos os tempos.
Para tal, não chega ler textos do manual prévios à leitura da obra, tantas vezes enfadonhos e que em nada contribuem para criar um laço afetivo entre os alunos e a obra que vão ler. É preciso muito mais que isso! É necessário, em primeiro lugar, que o próprio professor se entusiasme e contagie os jovens que tem diante de si com esse mesmo gáudio.
Em segundo lugar, é imperioso, na minha opinião, que os manuais sejam menos extensos, quase reduzidos aos textos e conteúdos essenciais, e que o professor tenha a liberdade de criar ou utilizar outros materiais que considere mais adequados a cada turma, privilegiando atividades que estimulem o espírito crítico, o conhecimento da época em que as obras foram escritas e o modo como os temas nelas presentes se repercutem em termos contemporâneos.
Os livros foram escritos para nos possibilitarem o deleite proveniente da sua leitura e como motores do nosso pensamento. Por isso, considero que a forma como muitos textos são tratados em contexto de aula um empobrecimento daquelas linhas redigidas com tanto fervor pelo escritor. Não acredito que nenhum autor tivesse em mente, seja em que tempo for, transformar o estudo da sua obra nas questões com que me deparo em tantos manuais.
Que pena que estejamos, diariamente, a perder tantas oportunidades de conferir mais cultura aos alunos e mais pensamento crítico através da literatura! Evidentemente que não me refiro a todas as aulas de português nem a todos os professores desta língua. Existem aulas e professores magníficos. Contudo, esta não parece ser a regra, até porque os professores estão presos a programas que precisam, urgentemente, de revisão.
Isto para não falar da escrita e da oralidade, igualmente exploradas de modo medíocre em sala de aula. Fui, durante muitos anos, professora do ensino secundário e pude constatar como os alunos chegavam à primeira aula pouco habituados ao treino consistente da escrita, a refletirem sobre os erros dados e a reescreverem os seus textos após essa reflexão. Vários alunos chegavam mesmo a referir que só escreviam textos no próprio teste. Como pode isto ser possível? Como podem os professores avaliar o que não foi treinado? Considero tudo isto deveras lamentável…
Quanto à oralidade, poucos debates são dinamizados, reduzindo-se a avaliação desta competência a uma apresentação oral em sala de aula, muitas vezes previamente decorada pelo alunos em casa. Muitos dirão que isso é melhor do que nada, mas, convenhamos, é claramente insuficiente! Até porque estes alunos precisarão de falar e de escrever em bom português ao longo da sua vida, nomeadamente no contexto profissional e também para compreenderem os outros, serem compreendidos e saberem interpretar informação de forma correta. Quantos conflitos poderiam ser evitados se tal acontecesse? E não poderiam, igualmente, os alunos obter melhores resultados noutras áreas do conhecimento se dominassem a sua língua?
Muito mais poderia ser escrito sobre este tema, porque é essencial que a nossa língua seja estudada de modo a que, nas aulas, a sua aprendizagem seja exponenciada, promovendo o impacto tão positivo que o domínio do português pode ter na vida dos nossos alunos. Por isso, questiono: para quando uma revisão dos programas e metas curriculares desta disciplina? Para quando aulas mais cativantes? O tempo urge!