Opinião

Falar é sempre a melhor opção

A prevenção do suicídio não diz respeito apenas aos(às) profissionais de saúde, mas sim a todos(as) os(as) cidadãos(ãs). Importa, desde logo, estar atento(a), prestar atenção aos(às) outros(as), e ser empático(a). Um gesto tão simples quanto perguntar “como está?” pode ajudar a salvar uma vida

Francisco Sampaio e José Carlos Santos, enfermeiros especialistas em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

Em todo o mundo, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio anualmente. Estima-se, contudo, que o número de tentativas de suicídio seja até 20 vezes superior. O suicídio é um problema de saúde pública global. Em Portugal, pese embora exista uma subnotificação de casos, dados de 2021 do Instituto Nacional de Estatística apontam para uma taxa de mortalidade por suicídio de 9 por 100 mil habitantes (cerca de três óbitos por dia), afetando sobretudo pessoas do sexo masculino, mais velhas, e habitantes de zonas rurais.

Na esmagadora maioria das vezes as pessoas que morrem por suicídio têm uma doença mental associada, sendo a depressão a mais comum. A morte por suicídio pode ocorrer em pessoas de qualquer classe social, profissão, idade e/ou sexo, pelo que, contrariamente ao que muitas vezes se afirma, a prevenção não diz respeito apenas aos(às) profissionais de saúde, mas antes a toda a comunidade.

A verdade é que todos(as) podemos e devemos ajudar a prevenir o suicídio, e essa prevenção começa precisamente em cada um de nós, independentemente da sua profissão, estando atentos(as) e demonstrando interesse pelas pessoas mais próximas. Por sua vez, os(as) “porteiros(as) sociais”, são cidadãos(ãs) que podem ser o ponto de partida para a ajuda de que a pessoa com pensamentos suicidas necessita. Esses(as) “porteiros(as) sociais” podem ser professores(as), sacerdotes, colegas de trabalho, vizinhos(as), entre outros(as), qualquer pessoa que tenha alguma literacia sobre comportamentos suicidários e identifique alguém em risco de suicídio, depois de reconhecer sinais de alarme, e recomende a sua ida ou a acompanhe aos serviços de saúde.

Assim, é essencial que todos(as) os(as) cidadãos(ãs) sejam, desde logo, capazes de reconhecer no(a) outro(a) sinais de alarme de suicídio, tais como, por exemplo: dizer que não tem esperança no futuro e/ou que não vê solução para os seus problemas; verbalizar que se sente num beco sem saída; isolar-se dos(as) colegas, familiares e/ou amigos(as); dizer que se sente culpado(a) ou um fardo para os(as) outros(as); perder o interesse por si mesmo(a) e/ou por atividades que considerava prazerosas; falar sobre a morte e o suicídio; oferecer bens pessoais; procurar informações sobre o suicídio. Identificados esses sinais, é essencial prestar atenção aos mesmos, valorizá-los, não fazer juízos de valor e, se oportuno, perguntar diretamente sobre pensamentos de suicídio (exemplo: “já te passou pela cabeça fazer alguma coisa para acabar com a vida?”).

Culturalmente, o suicídio é ainda encarado como um tema tabu, pelo que questionar diretamente acerca do mesmo tende a ser visto como um potencial gatilho para o comportamento suicidário. Porém, verifica-se precisamente o contrário: perguntar sobre pensamentos suicidas demonstra interesse e conhecimento, e permite à pessoa em risco expressar emoções e falar acerca do tema. Falar é sempre o princípio da solução, na medida em que proporciona alívio e pode ser o ponto de partida para que a pessoa em risco seja encorajada a procurar ajuda profissional.

Hoje, 10 de setembro, Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, este ano dedicado ao tema “Criar Esperança através da Ação”, são duas as recomendações de ação fundamentais a transmitir e a reter:

1) Um gesto tão simples quanto perguntar “como está?” pode ajudar a salvar uma vida;

2) Se está a sentir-se mais em baixo, triste e/ou preocupado(a), peça ajuda.

Para além do Número Europeu de Emergência (112) e da Linha SNS 24 (808 24 24 24), existem diversas linhas de crise que pode contactar como, por exemplo, a SOS Voz Amiga (16h-24h: 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660).

Ter pensamentos suicidas pode acontecer em todas as idades e não é um sinal de fraqueza, mas antes algo que deve ser valorizado; falar sobre o assunto com alguém e procurar ajuda profissional, tão cedo quanto possível, são invariavelmente a melhor opção. Há sempre alternativas ao comportamento suicidário!

Francisco Sampaio, enfermeiro especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, e professor na Escola Superior de Enfermagem do Porto.

José Carlos Santos, enfermeiro especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, e professor na escola Superior de Enfermagem de Coimbra.