Opinião

As loucuras dos Kim e a afirmação nuclear da Coreia do Norte

A questão nuclear da Coreia do Norte começa no final dos anos de 1980. Perante as perdas das suas relações de aliança na Guerra Fria e enfrentando desafios sem paralelo para a sobrevivência do regime, os líderes procuraram segurança através da exploração de armas nucleares e avanços diplomáticos com os Estados Unidos da América

O regime de Kim II Sung, fundador do país, aprendeu com os bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki que duas armas atómicas poderiam forçar um império a desenvolver-se nuclearmente. Pyongyang envolveu-se ativamente em programas de pesquisa nuclear na década de 1950, quando temia ficar atrás da Coreia do Sul.

A Coreia do Norte concordou com programas de desenvolvimento pacífico com a então União Soviética para estabelecer infraestruturas nucleares. Mais tarde, acabaram por se tornar o centro das preocupações norte-americanas.

Apenas na década de 70, com receio de poder ser abandonado pelos aliados após a retirada dos mísseis soviéticos de Cuba, o regime de Pyongyang sentiu necessidade de garantir a independência relativamente a Pequim e a Moscovo. Por isso, o país ingressou na Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) em 1974.

Nos anos seguintes infiltrou um cientista nuclear na sede da AIEA, em Genebra, para extrair informações de como projetar um reator nuclear, permitindo-lhes ter sucesso em 1980.

1990-2000, duas décadas nucleares

Os anos entre 1990 e 2000 moldaram o futuro da Coreia do Norte e a forma como o mundo a via. Em 1992, os governos das duas Coreias assinaram um tratado que permitia a utilização de energia nuclear única e exclusivamente para fins pacíficos.

Já em 1994, durante as crescentes tensões na Península da Coreia, Jimmy Carter (ex-Presidente dos EUA) visitou a Coreia do Norte e encontrou-se com Kim Il-Sung, abrindo caminho para um acordo bilateral entre os EUA e a Coreia do Norte.

Apesar da morte de Kim Il-Sung, umas semanas depois, e com a sucessão de Kim Jong-Il, o acordo entre os EUA e a Coreia do Norte foi assinado. A Coreia do Norte assumiu, assim, interromper o seu desenvolvimento nuclear e, em troca, os EUA comprometeram-se a aliviar as sanções, a fornecer ajuda alimentar e milhares de toneladas de petróleo e dois reatores de água leve para uso civil.

Em 2001, George W. Bush tomou posse como Presidente dos EUA e, durante toda a sua presidência, impôs duras sanções ao regime norte-coreano. Foram várias as tentativas de negociação entre os EUA e a Coreia do Norte relativamente aos programas nucleares e à interrupção de fabrico de material e tecnologia nuclear. No entanto, todas as tentativas falharam.

Em 2011, Kim Jong-un torna-se o líder norte-coreano depois da morte do seu pai. Apesar de jovem e inexperiente, continuava a luta norte-coreana pela independência nuclear.

Já em 2017, com a tomada de posse de Donald Trump, a política dos EUA continuava agressiva: a Coreia do Norte passava a Estado patrocinador de terrorismo, dando início a ameaças constantes de ataques militares e nucleares.

Nos anos seguintes, as tensões aumentaram, com os norte-coreanos a provocarem constantemente o exterior através da continuidade de testes de mísseis de curto, médio e longo alcance. Os EUA e a ONU respondiam com propostas de sanções que eram prontamente bloqueadas por Pequim e Moscovo.

Um desenvolvimento preocupante: qual a mensagem política de Kim?

Há décadas que países como os EUA e a Coreia do Sul tentam negociar com a Coreia do Norte, mas Pyongyang não cede a qualquer pressão e, com o apoio da China e da Rússia, vão continuando a desenvolver e a diversificar as suas armas nucleares, em quantidade e qualidade, vangloriando-se perante o mundo com demonstrações constantes do seu arsenal.

A crescente ameaça da Coreia do Norte influencia a política interna de alguns países como a Coreia do Sul, que considera construir as suas próprias armas nucleares, preocupando-se que os países aliados não os consigam proteger de potenciais ataques nucleares.

Kim Jong-un tem razões políticas para o rápido desenvolvimento de armas e testes nucleares. Pyongyang tem demonstrado a sua capacidade de tomar medidas preventivas contra os inimigos, fortalecendo-se e estabelecendo-se como um estado de armas nucleares.

Kim Jong-un procura seguir um caminho próprio, contornando as sanções através das cooperações económicas com a China e Rússia, aproveitando o relacionamento hostil entre os EUA e China. Um futuro que levanta muitas dúvidas e faz soar muitos alarmes. Estará o mundo preparado para viver e lidar com estas loucuras?