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Opinião

Glenda Jackson

1936-2023. Atriz britânica, galardoada duas vezes com o Óscar de Melhor Atriz, interrompeu a carreira para se dedicar à política e foi eleita pelo partido trabalhista

FOTO Jack Robinson/Hulton Archive/Getty Images

No conto ‘Queremos Tanto a Glenda’ (‘Gostamos tanto da Glenda’), do escritor argentino Julio Cortázar, publicado em 1980 num livro de contos com o mesmo título, temos um grupo de fãs da atriz Glenda Garson que se encontra em cafés para falar sobre os filmes. A dada altura, conversar parece insuficiente e o núcleo duro “cerra fileiras” e inicia aquilo que um deles qualifica como uma missão. A missão consiste em editar e montar os filmes para que Glenda, retirada da profissão, apareça sempre triunfante, sem os erros previamente identificados nos encontros nos cafés. Os filmes são exibidos com os cortes e quase ninguém nota, exceto um ou outro espetador que escreve cartas a reclamar de “problemas de montagem”. Glenda era perfeita. Acontece que um dia a atriz regressa ao ecrã e retoma a carreira que interrompera e isso tem um efeito desencorajador no grupo.

A Glenda Garson ficcional de Cortázar é a atriz Glenda Jackson que, reza a lenda, terá pedido uma tradução do conto e escrito uma carta simpática ao autor. Sabemos pouco sobre este episódio, mas é muito possível que Jackson o tenha elogiado com sobriedade, seriedade e sem um pingo de humor. Embora tenha participado ocasionalmente no programa de comédia “Morecombe and Wise”, porque tinha dito um dia numa entrevista que gostaria de fazer comédia, Glenda Jackson era uma atriz séria que defendia que “representar era um trabalho sério para pessoas sérias”. Em entrevistas espalhadas pelo YouTube, vemos como nem sequer tenta ter cumplicidade com quem a entrevista. Não se sentia na obrigação de agradar e não tinha nenhum problema em defraudar expectativas irrealistas do público, segundo afirma numa entrevista na Thames TV em 1973.