Heinz Alfred Kissinger nasceu em 1923, a poucos quilómetros de Nuremberga, numa família judia. Quando tinha 10 anos, viu o pai perder o posto de professor, pelas leis antissemitas. E quando tinha 15, tornou-se emigrante: a família fugiu para Nova Iorque. Os americanos, com discutível humor, chamavam “Quarto Reich” ao bairro onde todos os refugiados judeus iam dar. Nesse ano, Heinz deixaria de ser Heinz: tornou-se Henry Kissinger. Estudou contabilidade (sem entusiasmo), engenharia (sem felicidade) e ciência política (com carreira meteórica). Aos 20 anos naturaliza-se americano. E aos 21, o jovem soldado Kissinger veste o uniforme e é destacado para a Alemanha. Participa no triunfo dos Aliados, vê as ruínas germânicas e trabalha na “desnazificação”. Aos 25 anos, a vida de Kissinger já era uma metáfora da história.
Se a Europa não fosse terra de demónios, onde nasceram os totalitarismos, e se os europeus não fossem experts em expulsarem os melhores — os judeus, os jesuítas, por exemplo —, Henry Kissinger teria sido membro e continuador de uma distinta linhagem de grandes diplomatas europeus, como Talleyrand, Metternich ou Bismark. Mas aconteceu tudo ao contrário: porque os EUA (ainda) são o país onde um jovem refugiado judeu pode assentar, trabalhar, ensinar, brilhar e tornar-se o diplomata mais prestigiado da sua geração, Kissinger serviu a América e quatro dos seus Presidentes. Tal como Zbigniew Brzezinski (polaco de origem) e Madeleine Albright (checa).
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