Ainda a semana ia a meio e tomei uma decisão: vou filiar-me no PS. Recomendei até, a alguns amigos conservadores, que fizessem o mesmo. A resposta dos amigos foi mais violenta do que os zurros dos que me criticaram no Twitter a propósito do meu último artigo, vejam lá. Ambos, porém, com uma coisa em comum: intencionalmente não quiseram, os primeiros, ou não conseguiram, os segundos, perceber a minha verdadeira motivação. A premissa é antiga, pragmática e, reconheço, algo cínica: se há tanto que fazer, e se a democracia falha, mais vale fazê-lo onde tal é possível. Mais vale minimizar os erros, do que gritar contra eles enquanto acontecem. Eu disse cínica. E disse-me conservador.
Explico: o PS é a nova União Nacional. As diferenças, por exemplo, entre o Sérgio Sousa Pinto e o Pedro Nuno Santos são maiores do que as diferenças entre alguns dos demasiados partidos à sua direita; e, assim como assim, antes ser a ala liberal no poder, do que estar na clandestinidade a lamuriar. Repito, e acrescento um esclarecimento: o PS é a nova União Nacional, porque é uma espécie de partido único (a velha impedia, a nova desqualifica, outros partidos alternativos) e porque é lá que tudo se decide, mesmo impunemente (mesmo que o que lá se passa fosse, numa democracia normal, suficiente para os pôr, pelo menos, em cura de oposição).
Na dúvida, é ter assistido à opera da última semana. Enquanto que nas urgências hospitalares (e, já agora, no debate no Parlamento), grávidas, crianças e vulneráveis não tinham pão, no Largo do Rato, Governo (liderado por Costa) e oposição (liderada por Pedro Nuno Santos) entretinham-se e distraiam-nos com uma guerra de brioches. E nós, sem pão e sem brioches, ficámos com o circo.
E eis que, no final do acto, quando pensávamos que o miúdo estava já num canto, triste, humilhado e sozinho, depois do puxão de orelhas do pai, Ana Abrunhosa foi lá ao canto, tão querida, dar um grande grande abraço ao rufia. Esqueçam Vicente, ignorem Garrett! O PS é o alfa e o omega do país. Não falo de política, falo de dramaturgia: tragédia, sátira e comédia. A rábula está para durar.
Coisas sérias: estava eu a pensar ir hoje inscrever-me no PS, e eis que…
Eis que, no mítico Palácio de Cristal, onde há quase 5 décadas quiseram calar Adelino Amaro da Costa, Freitas do Amaral, Francisco Lucas Pires e tantos outros, alguém voltou a falar, depois de demasiados anos de socialismo mal disfarçado, no PPD. Foi Luís Montenegro. E o que disse Luís Montenegro este fim de semana no congresso do PPD para que eu faça hoje uma pausa, aqui no Príncipe Real, antes de chegar ao Rato? E por que insisto eu em estabelecer a ponte entre o PPD e o CDS de outrora?
Paro, porque se isto é verdade e se o PPD está de volta, o PS não é já a União Nacional e a oposição não é já clandestina e quase muda. Não é já a União Nacional o PS, porque nem tudo tem que se decidir lá; e a oposição não é já clandestina e quase muda, porque o único partido capaz de polarizar votos de forma expressiva, construtiva, reformista e alternativa não é já uma entidade subsidiária do PS. Parece, até prova em contrário, que o PPD está de volta.
Têm dúvidas? Disse Montenegro: "há pessoas que esperam do poder político respostas que lhe possam conferir mais bem-estar e mais qualidade de vida." Alguém se atreve a desmentir? Mas disse mais: disse que o PPD não representa apenas os que nele votaram, mas o interesse nacional, o interesse de todos; derrogando aqueles e aquela estratégia que quer virar uns contra os outros, cindindo a coesão social, num país onde o esforço de todos é preciso e precioso.
Como e a partir de que posição? Da de sempre: da posição de sempre do PPD, e atrevo-me a dizer, da posição de sempre do CDS. Disse Montenegro: "Nós acreditamos na iniciativa privada como motor da criação de riqueza; e por isso não somos socialistas. Nós também acreditamos que a igualdade de oportunidades, justiça social e segurança são as traves-mestras das funções do Estado; e por isso nós não somos excessivamente liberais". Depois continuou, mas para este efeito concluiu: "Nós temos na Liberdade e na possibilidade de fazer feliz cada ser humano, cada indivíduo individualmente considerado, temos nessa Liberdade, nessa capacidade de lhe oferecer essas ferramentas para ele alcançar esse objectivo, o fim último da nossa acção. E é isso que vamos fazer para reconquistar a confiança dos portugueses."
Vocês não sei, mas eu já não vou ao Rato inscrever-me no PS. Fico e pago para ver.