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Opinião

De Jerusalém a Adis Abeba

São os seus dedos, alguém do outro lado, Emahoy Tsegué-Maryam Guèbrou e o seu piano, quando chegam notícias dos confrontos na região de Tigray, na Etiópia

Nascida numa família abastada de Adis Abeba, em 1923, Emahoy Tsegué-Maryam Guèbrou foi enviada para a Suíça aos seis anos para estudar violino. De regresso à Etiópia, nos anos 30 do século passado, corria a Segunda Guerra Ítalo-Etíope, seria feita prisioneira de guerra. No Egito, prosseguiria os estudos musicais e editaria o primeiro disco em 1967. Segundo a lenda, nesses anos, à recusa inexplicada de uma bolsa na Royal Academy of Music, em Londres, seguiu-se um jejum e uma epifania. Decide-se a dedicar a vida a Deus e a deixar a música. Na cela da Igreja Ortodoxa Etíope de Jerusalém, onde vive, Emahoy Tsegué-Maryam tem um piano. A sua música chegou ao grande público pela mão da série “Ethiopiques”, compilação de músicos etíopes e eritreus, editada por Francis Falceto entre 1998 e 2010, que junta nomes como Mahmoud Ahmed ou Mulatu Astatke e outros tesouros dos anos de ouro do ethio-jazz.