A primeira impressão é fundamental na influência e na consequente gestão de um processo de comunicação. Assim como a reputação, que num processo inverso, demora tempo a construir, mas num ápice se destrói.
Portugal causou boa impressão.
Enquanto o mundo assistia em março e abril a uma Europa fustigada pela Covid, o nosso país era referenciado nas mais prestigiadas publicações internacionais como o exemplo de gestão da pandemia. Tivemos um “confinamento de excelência “, repleto de aplausos mediáticos, políticos e sociais, que se juntou a uma imagem cada vez mais apreciada de um país seguro, acolhedor, inovador e de praias idílicas, imagem esta que levou anos a construir e menos de dois meses a destruir.
Se é certo que não somos o único país a não controlar a crise pandémica, somos dos que pior comunicam a forma como o estamos a fazer. A imagem de Portugal mudou. E quantos mais dias passam, mais distantes estamos do “país revelação”.
Ouvia há dias o Sr. Primeiro Ministro afirmar com toda a convicção que “não está preocupado com a imagem externa de Portugal”. Pois eu estou. E muito. E neste momento não há Champions nem estatísticas de números de testes efetuados que nos valham. Portugal continua a dar que falar, mas agora pelas piores razões.
Enquanto os surtos e números de infetados são diariamente revelados, abrem-se corredores aéreos a outros países que se vão organizando para receber os nossos turistas, os nossos eventos, os nossos investidores.
E enquanto ninguém se entende sobre as razões da ineficácia do controlo, enquanto estamos neste « abre e fecha », os nossos hotéis, restaurantes, companhias aéreas, comércio, operadores de viagem definham. Assistimos atónitos à ausência de uma boa explicação (e de uma boa comunicação). Portugal e o nosso PIB vivem largamente do turismo. No momento em que mais precisamos que nos visitem, estamos a ser confinados pela Europa e pelo mundo. A aviação trouxe a Portugal em 2019, mais de 32 milhões de passageiros. Estamos em julho de 2020 e os corredores aéreos dos principais mercados emissores mantêm-se fechados. Ora, sendo que os fatores mais valorizados por quem decide viajar são a segurança e acessibilidade, à porta de um verão que representaria uma “boia de salvação” para a nossa retoma, não temos nem segurança, nem acessibilidades, nem turistas para ir a banhos. E sem turistas e sem segurança, o sector estrela de Portugal terá perdas avultadas. Muita da oferta instalada está a fechar para não mais abrir. O sector empregava diretamente 337 000 pessoas e deu a ganhar em 2019 ao nosso país receitas de 18,4 MM €. Importa por isso perceber que o turismo representa cerca de 20% da riqueza gerada em Portugal, e sem esta ficaremos certamente muito mais pobres.
A imagem de Portugal e a forma como estamos a gerir as nossas relações diplomáticas vão pagar um preço muito alto. Muito mais alto que a crise sanitária da Covid. Num mundo global e intimamente interligado, a incoerência do que se diz e do que se faz não passa despercebida além fronteiras. E se o mundo já está de olhos postos em nós, que lhes diremos quando o país for o “palco” que recebe uma das mais relevantes competições internacionais de futebol de estádios vazios de publico e emoção, porque a nossa condição sanitária é tão frágil que pode colocar em risco os que cá chegam e os que cá estão?
Esperemos que este “prémio” tão anunciado não exponha ainda mais o que de menos bom por aqui vai. Porque de má fama e mau proveito, já estamos nós cansados.