Foi sempre o asteroide. Nunca imaginei a pandemia a dar cabo da vida, a minha, a vossa, a do planeta. Praia com quadrado reservado, banho de sol a metro e com senha, amizade em acrílico, fantasmas em vez de gente, e sobrevoando a larga desolação o medo corporizado no morcego da covid, a sugar-nos o sangue e o ar que respiramos. Foi sempre o asteroide, esses corpos celestes e interestelares dos filmes de ficção científica, que imaginei como ameaça à nossa terra, vulgo Terra, planeta vizinho de Vénus e Marte e aquecido pela estrela solar. Esses asteroides que passam a escassos centímetros, centímetros que, na medição astronómica, passam a milhões de quilómetros, a mesma medição que diz que os anos são feitos da velocidade da luz. O asteroide é uma daquelas coisas em que nunca se pensa. Qualquer conhecimento residual de astronomia diz-nos que temos tido muita sorte, o asteroide passa sempre ao lado. Há pouco tempo, entretidos com a covid, o asteroide passou ao lado.
Era o asteroide. E a seguir o sismo, sendo o sismo uma catástrofe regional, a fenda do Atlântico, as placas tectónicas, os vulcânicos Açores e tudo o mais. O sismo, como o de 1755, é uma ameaça real e lisboeta. O grande sismo chegou no dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos, e arrasou a baixa da cidade. Fazer um seguro antissismo em Portugal, em Lisboa, é o mesmo que fazer um seguro anticovid. As seguradoras não apreciam, e no caso da covid ainda nem apreciaram a ideia. E assim íamos vivendo, imortais. Entre o asteroide ativo e a inconsciência humana e planetária. Ninguém perde o sono por causa das alterações climáticas e o raciocínio é o do egoísta. O futuro que trate do assunto. Ora, o futuro está a tratar do assunto no presente e não é agradável.
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