Escolher quem vive, escolher quem morre. Este é o drama em que vivem muitos profissionais de saúde em alguns países onde a situação começou mais cedo ou de forma mais grave, confrontados com a pandemia do Coronavírus. A falta de ventiladores para os que não conseguem respirar, a falta de salas para os que têm de se resguardar, a falta de profissionais para atender quem chega por outra qualquer emergência.
Ter demorado a chegar a Portugal permite prepararmo-nos melhor e, acima de tudo, mudar o registo habitual do discurso político. No entanto, o que tenho testemunhado até ao momento dá-me a sensação de que estou a ouvir a história do homem que cai do topo de um prédio e diz: “até agora, tudo tranquilo!” à medida que vai passando os andares.
Grande parte do país começou por acompanhar a definição de “gripe armada em parva” utilizada por alguns dos nossos comediantes para o COVID-19, mas essa expressão não é válida para todos nós, especialmente quando não existe forma de ajudar quem precisa, se o sistema ficar sobrelotado.
Neste momento há milhares de pessoas a precisar de ação da parte do Estado: empresários com dúvidas sobre como colocar a sua empresa em teletrabalho (se isso for possível), pessoas que não sabem se podem ou não utilizar o transporte público para se deslocarem, idosos que não podem fazer as suas compras, pessoas que não sabem de onde vão receber o seu vencimento, funcionários públicos que continuam a atender pessoas nas lojas do cidadão sem qualquer proteção (às vezes sem desinfetante para as suas próprias mãos), entre tantas outras.
Vão ter de ser tomadas medidas difíceis para a economia, para o país e, portanto, para as pessoas. E neste momento, a palavra oposição não pode significar estar do lado oposto ao do Governo, mas sim do mesmo lado, contra o perigo comum que vivemos. Neste momento, tanto o Governo como a oposição devem manter a serenidade, devem comunicar regularmente com a população, devem fazer o que podem para evitar o alarmismo que tende tantas vezes a piorar estas situações. Mas pior do que o medo de alarmar é patrocinar um estado de ansiedade e incerteza no país.
Queixamo-nos muitas vezes de sermos os últimos a chegar, de estarmos na cauda da Europa, de irmos atrás dos outros. Desta vez isso é para nós uma grande vantagem. Quando vemos mais de centenas pessoas a morrer em 24h a alguns quilómetros de distância, devemos aprender com os erros dos outros e aproveitar para fazer tudo o que pudermos para não chegar a tal situação. E isso tem resposta: prevenção.
Em situação de pandemia não podem existir meias medidas: Tomem-se as medidas inteiras: tomem-se todas e depressa.