União Europeia

Falta de paridade é um "retrocesso" da nova Comissão Von der Leyen, luta pelas pastas económicas mantém-se viva

Von der Leyen conta com apenas nove candidatas a comissárias, face a uma esmagadora maioria de homens. Um "retrocesso" diz a ministra do Ambiente e ex-eurodeputada Graça Carvalho. As pastas dos Assuntos Económicos e do Orçamento poderão ir para Itália e Polónia

Ursula von der Leyen vai continuar à frente da Comissão Europeia
Johanna Geron/Reuters

Debaixo de uma nova chuva de críticas por causa da privatização da TAP, Maria Luís Albuquerque continua na luta por uma pasta económica na Comissão de Ursula von der Leyen, tendo em conta o percurso profissional da ex-ministra das Finanças. Mas duas das pastas mais importantes nesta área poderão ir para Itália e Polónia.

De acordo com o jornal alemão ‘Die Welt’, o nome indicado pela primeira-ministra Giorgia Meloni deverá ficar com uma vice-presidência e a cargo dos assuntos económicos e da recuperação pós-pandemia. Raffaele Fitto, dos Irmãos de Itália (direita radical), é atualmente ministro dos Assuntos Europeus e foi um dos últimos candidatos a comissário a ser conhecido. A confirmar-se a escolha, Von der Leyen faz a vontade a Meloni e mantém nas mãos de um italiano a pasta dos Assuntos Económicos, que está atualmente entregue a Paolo Gentiloni.

A outra pasta apontada como de interesse para Portugal é a do Orçamento, importante tendo em conta o aproximar da negociação do próximo quadro financeiro plurianual, pós 2027. Mas Von der Leyen estará a ponderar entregá-la ao futuro comissário polaco, Piotr Serafin, antigo chefe de gabinete de Donald Tusk, quando este era Presidente do Conselho Europeu.

Segundo o ‘Die Welt’, o letão Valdis Dombrovskis, que no atual mandato teve também uma importante pasta económica, incluindo a implementação dos PRR e o Comércio, poderá ficar agora com o alargamento e a reconstrução da Ucrânia. O francês Thierry Breton poderá passar do Mercado Interno para uma vice-presidência a supervisionar a indústria e a autonomia estratégica. Quanto à espanhola Teresa Ribera poderá ficar com a pasta da "transição" ecológica e digital.

Água é prioridade para Portugal

Outra pasta que continua a ser falada para Portugal é a das Pescas e Economia do Mar. Esta terça-feira, a ministra do Ambiente esteve em Bruxelas para insistir e argumentar junto da Comissão Europeia que a água deve ser uma prioridade europeia, que é preciso mais investimento face à escassez e que a gestão dos recursos hídricos deve ser tida em conta no próximo orçamento comunitário.

Maria da Graça Carvalho adiantou mesmo que "a água vai ter um papel importante numa das pastas de um dos comissários" do próximo executivo. No entanto, escusou-se a comentar que área poderia ser atribuída a Maria Luís Albuquerque e se esta poderia ficar com um portefólio ligada aos recursos hídricos.

"Há muitas pastas que fazem sentido para Portugal. Claro que a água é uma prioridade para Portugal, mas nem sempre o que é prioridade deve ficar para Portugal. Porque às vezes os Comissários até podem ter mais interferência se não for a sua própria pasta", afirmou Graça Carvalho aos jornalistas.

A água e a gestão de recursos hídricos poderá estar ligada à Economia do Mar, mas também poderá ser entregue ao comissário que ficar com as questões ambientais. A arquitetura da nova comissão está ainda a ser desenhada. Fontes comunitárias apontam para revelação da nova estrutura em meados de setembro, mas o Parlamento Europeu já convidou Von der Leyen a acelerar o passo e a a apresentar as várias pastas no dia 11.

Falta de paridade é "retrocesso"

A alemã continua às voltas com a falta de equilíbrio de género. Todos os países já indicaram candidatos e só há 10 mulheres - incluindo a Presidente - na equação. Numa equipa de 27, os homens são a esmagadora maioria. “Há um retrocesso”, admite Graça Carvalho, ministra e ex-eurodeputada do PSD. No entanto, responsabiliza os líderes pela falta de paridade, uma vez que foram eles a indicar os candidatos, ignorando e contrariando Von der Leyen, que lhes tinha pedido que sugerissem um homem e uma mulher.

Só a Bulgária enviou dois nomes, todos os outros escolheram indicar apenas um. No caso da Roménia, tinha inicialmente indicado um comissário, mas acabou por recuar e apresentar uma mulher. “Eu tenho muita tendência para lembrar-me de nomes de mulheres, mas os meus colegas se calhar não, lembram-se mais de nomes de homens e, portanto, é necessário encontrar um ponto de massa crítica para depois ser natural”, justificou Graça Carvalho, em tom de crítica.

O Conselho Europeu é dominado 24 homens, contando apenas com três mulheres, porém todas as primeiras-ministras indicaram homens para comissários, caso da Dinamarca, Itália e Letónia. Tal como o Expresso adiantou, Von der Leyen tenta ainda a paridade, pressionando países como a Estónia e Malta a mudar a indicação. Mas não está a ser bem sucedida.