O Partido Conservador britânico enfrenta um teste esta quinta-feira, dia em que duas circunscrições realizam eleições intercalares para substituir deputados tories que se demitiram. Vitórias dos trabalhistas nestes círculos de tradição conservadora seriam má notícia para o primeiro-ministro. Os motivos para a antecipação da ida às urnas tampouco favorecem o partido de Rishi Sunak.
Em Wellingborough, Northamptonshire (centro de Inglaterra), a formação do governante viu destituído o deputado Peter Bone, acusado de bullying, assédio e agressão sexual por um empregado seu. A suspensão decretada pelo Parlamento conduziu a uma petição popular para demiti-lo. Nas legislativas de 2019 Bone vencera com 62% dos votos.
Para substituí-lo os conservadores propõem Helen Harrison, namorada de Bone. Terá sido exigência do demissionário, que desmente as acusações de ter agredido fisicamente um funcionário, a quem terá exigido massagens e a cujo rosto terá encostado os seus órgãos genitais. A escolha de Harrison foi criticada internamente e as grandes figuras do partido — incluindo Sunak — abstiveram-se de participar na campanha em Wellingborough.
Demissão contra política de Sunak
Já em Kingswood (sudoeste de Inglaterra), a ida às urnas deve-se à renúncia do deputado Chris Skidmore, também do partido de Sunak, que sai em protesto contra a decisão do Governo de emitir mais licenças de exploração de petróleo e gás. Há quatro anos, Skidmore obtivera 56,2% dos sufrágios.
Na atual legislatura, inaugurada em 2019, houve 19 eleições intercalares, por demissão ou morte de deputados. Destas, onze foram em círculos conservadores, que perderam em oito casos (quatro para os trabalhistas, outros tantos para os liberais democratas), aguentando três. Em contrapartida, os tories só recuperaram um assento desde 2019, aos trabalhistas, e estes conquistaram um aos independentistas escoceses.
O jornal “The Guardian” prevê vitórias dos trabalhistas em Wellingborough e Kingswood. No entanto, o maior partido da oposição, chefiado por Keir Starmer, teve uma semana comprometedora. Retirou o apoio ao seu candidato noutra eleição intercalar — a realizar dia 29 em Rochdale, na área metropolitana de Manchester — por este ter feito declarações antissemitas. Consequência disso ou não, a vantagem do partido sobre os conservadores a nível nacional caiu sete pontos percentuais numa sondagem do instituto Savanta. Ainda assim, a vantagem da oposição sobre o Governo anda em intervalos de dois dígitos em todos os estudos de opinião.
Sunak também tem tido dias maus. Não só foi considerado de mau gosto ter apostado mil libras (1200 euros) com um apresentador de televisão em como conseguirá levar avante o seu plano para deportar imigrantes para o Ruanda, como fez comentários jocosos sobre pessoas transgénero, em pleno Parlamento, quando na assistência estava a mãe de Brianna Ghey, adolescente trans assassinada no ano passado. A toldar ainda mais o horizonte do primeiro-ministro, esta quinta-feira soube-se que a economia do Reino Unido entrara em recessão técnica.
Resultados saem no dia seguinte
Nos dois círculos que vão a votos esta quinta-feira, os candidatos trabalhistas são antigos autarcas. Gen Kitchen, que se candidata em Wellingborough, nasceu em Northamptonshire e foi vereadora em Newham, no leste da Grande Londres. Damien Egan, o aspirante em Kingswood, é dali e foi presidente da Câmara de Lewisham, no sueste da zona metropolitana da capital do Reino Unido. Neste círculo os conservadores apostam em Sam Bromiley, autarca em South Gloucestershire.
Em Wellingborough concorrem ainda os liberais, verdes, reformadores (direita radical), Britain First (neofascista), Partido Oficial dos Monstros Loucos por Festas (satírico) e quatro independentes. Em Kingswood estarão no boletim conservadores, trabalhistas, liberais, verdes, reformadores e o Partido pela Independência do Reino Unido (anti-UE).
As urnas abriram às 7h e fecham às 22h de quinta-feira. Os resultados devem ser anunciados na madrugada de sexta-feira.