Depois da polémica execução de Joseph Wood, de 55 anos, cuja agonia se prolongou por duas horas (muito mais do que os escassos minutos previstos depois de alicada a injeção letal), o estado do Arizona suspendeu temporariamente a aplicação da pena de morte. Em causa está a substituição dos fármacos utilizados habitualmente nestas ocasiões por outros, que ainda não haviam sido experimentados.
Apesar dos especialistas na matéria alegarem que a execução de Wood foi uma das mais longas de sempre, Charles L. Ryan, diretor do Departamento Correcional do Arizona, nega que tenha ocorrido algum problema com o procedimento. O relatório da autópsia realizada ao recluso confirma que "os cateteres em cada braço estavam completamente dentro das veias", garantindo que não houve qualquer derrame.
As autoridades do Arizona já vieram a terreiro prometer investigar o caso. Porém, tudo indica que a longa agonia foi motivada pelo cocktail de drogas utilizado. O incidente surge num período em que os estados norte-americanos que ainda aplicam a pena de morte têm cada vez mais dificuldade em aceder à combinação de drogas habitualmente utilizadas nas execuções.
Anteriormente, eram usadas três drogas com propósitos diferentes: um anestésico, um agente paralisante e o químico que iria, efetivamente, matar o condenado. As empresas que forneciam o agente anestésico, habitualmente tiopental sódico, decidiram deixar de o fazer por não quererem relacionar-se com a prática da pena de morte. Um ingrediente em particular, o midazolam, utilizado em Wood e numa outra execução em Oklahoma, em maio deste ano, tem sido apontado como possível elemento perturbador.
Como "um peixe fora de água a lutar por ar"
Com medo que lhe acontecesse o sucedido ao condenado de Oklahoma (que agonizou durante quase uma hora), Wood já tinha pedido para que o seu processo ficasse suspenso.
Onde as autoridades adquiriram as drogas usadas nesta última execução ninguém sabe. Apesar de terem sido pressionados pelo advogado de Wood a dizer onde tinham sido adquiridas as drogas e que mistura estava a ser injetada, os agentes do estado intervenientes no processo remeteram-se ao silêncio e a execução prosseguiu.
Alguns jornalistas testemunharam a longa agonia de Wood, que lutou por conseguir respirar até ser declarado morto. Presente no local, Troy Haiden, um repórter citado pela CNN, definiu os últimos momentos do recluso como "um peixe fora de água a lutar por ar".
Mesmo depois da injeção ter sido administrada e perante a asfixia do seu cliente, o advogado de Joseph Wood tentou travar a execução. Num documento escrito no momento lia-se "ele ainda está vivo", sublinhando que havia uma violação clara do direito de "ser executado sem um castigo cruel e inusitado".
Nesse documento o Arizona é acusado da responsabilidade "por um horror inteiramente evitável, uma execução desastrosa". Apesar de tudo, as opiniões não são concordantes. Condenado à morte em 1989 pela morte da sua namorada e do pai desta, uma familiar destas das duas vítimas, também presente na sala de execução, disse que lhe pareceu apenas que o homem "roncava", descartando o seu sofrimento.
Seja como for, a governadora do Arizona, Jan Brewer, ordenou que o processo de execuções seja revisto. E Stephanie Grisham, porta voz de Tom Horne, procurador-geral do Arizona, reforçou a nota dizendo que mais nenhum mandado de execução será emitido até que os factos estejam clarificados.