Guerra no Médio Oriente

Investigação encomendada pela ONU conclui pela primeira vez que Israel cometeu genocídio em Gaza

Uma investigação independente solicitada pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas garantiu que Israel cometeu ações genocidas na Palestina

Faixa de Gaza
DAWOUD ABU ALKAS/Reuters

A Organização das Nações Unidas (ONU) concluiu, pela primeira vez, que Israel cometeu genocídio em Gaza. Uma investigação independente solicitada pelo Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU considera que o país cometeu “quatro atos genocidas” desde o início do conflito, em reação ao massacre cometido pelo movimento radical Hamas a 7 de outubro de 2023, avançou a CNN internacional.

No relatório de 72 páginas, a ONU descreve as diferentes ações de genocídio levadas a cabo pelo Governo israelita, como o assassínio de palestinianos, causando aos cidadãos de Gaza “graves danos físicos e mentais”. O documento foi elaborado por uma comissão de três pessoas, cuja nomeação em 2021 dividiu o CDH.

A investigação entende ainda que Israel infligiu deliberadamente a um povo “condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física, total ou parcial”, e que impôs “medidas destinadas a impedir os nascimentos dentro do grupo”.

Todos estes atos estão presentes no artigo 2º da Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, que define este tipo de crime internacional. Israel já matou quase 65 mil pessoas na Faixa de Gaza, das quais mais de 80% são civis, segundo um relatório das próprias Forças de Defesa Israelitas (IDF, na sigla inglesa) noticiado pelo jornal britânico “The Guardian”. O número pode ser, contudo, dez vezes superior aos 65 mil estimados. “Devemos começar a pensar em 680 mil mortos em Gaza”, anunciou a relatora da ONU para os territórios palestinianos ocupados, esta segunda-feira.

Televive desmente acusações

“Israel rejeita categoricamente o relatório distorcido e falso e apela à abolição imediata da Comissão de Inquérito”, reagiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros do país. Afirma também que a investigação é baseada apenas em “falsidades do Hamas” e acusa os autores do documento de estarem afiliados ao grupo palestiniano.

O Governo liderado por Benjamin Netanyahu defende que as ações em Gaza têm como objetivo erradicar o Hamas e nega a acusação de genocídio. Além disso, depois de a ONU ter decretado que havia fome na região, pela primeira vez, o governante israelita negou que tal fosse verdade e culpou o Hamas pela falta de comida no território palestiniano.

Israel também é critico de organizações da ONU como a Agência de Alívio e Trabalhos das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos no Próximo Oriente (UNWRA), que dá assistência a refugiados palestinianos, e o próprio Conselho de Direitos Humanos da ONU. Israel entende que as decisões deste último são parciais contra si.

Texto escrito por João Sundfeld e editado por Pedro Cordeiro