O trabalho de Abdulrahman Ismail é registar, com o seu telemóvel “velho e partido, mas com uma câmara bem decente”, a vida dos que, em Gaza, insistem em não morrer. Nas suas caminhadas tenta captar “o desespero silencioso de quem espera horas em filas para a água”, o “medo constante dos cortes de energia que vão estragar a pouca comida que se armazenou”, ou “a incredulidade das pessoas a olhar para as ínfimas porções de alimentos que são entregues pelas organizações”. É poético na forma de escrever, diz que fala mal inglês, então pede para que comuniquemos através da escrita, da qual claramente se orgulha.
O “mais jovem cineasta” de Gaza
Com a ajuda da realizadora portuguesa Carolina Pereira, Abdulrahman filmou várias horas da vida de uma família dentro de uma tenda. Não saiu daqueles dois metros quadrados, não foi preciso. Entre as várias histórias que conheceu, escolhe escrever-nos sobre Maisar, uma mulher de 86 anos, incapaz de se mover pelas próprias pernas, sem acesso a uma cadeira de rodas. “Para ela, o mundo acaba na ponta da lona de uma tenda”, escreveu no seu diário, partes do qual partilhou com o Expresso. Chamam-lhe, garante, “o mais jovem cineasta de Gaza".