Guerra no Médio Oriente

"Nasrallah está morto". Israel anuncia morte do líder do Hezbollah

O líder do Hezbollah terá sido morto durante um ataque aéreo aos arredores de Beirute na tarde de sexta-feira. O movimento ainda não reagiu ao anúncio de Israel

Os bombardeamentos de Israel ao quartel-general do Hezbollah visaram o seu líder, Hassan Nasrallah
Reuters

O exército israelita anunciou este sábado a morte do líder do movimento islamita libanês Hezbollah, Hassan Nasrallah, durante um ataque aéreo na sexta-feira à sede da organização em Beirute.

"Hassan Nasrallah está morto", declarou o porta-voz do exército, tenente-coronel Nadav Shoshani, nas redes sociais, citado pela agência francesa AFP. Um outro porta-voz do exército, o capitão David Avraham, confirmou à AFP que o líder do Hezbollah foi eliminado, assim como outros comandantes do Hezbollah que se encontravam no mesmo local, em Dahiyeh, um subúrbio do sul de Beirute, densamente povoado.

Vídeos que estão a ser partilhados nas redes sociais mostram várias explosões violentas concentradas num mesmo local, onde estaria instalada a sede do movimento. O quartel-general funcionaria numa estrutura subterrânea, debaixo de um edifício residencial, e no momento do ataque "a linha de comando" estaria aí reunida "a avançar com atividades terroristas contra os civis de Israel", explicou a exército israelita em comunicado.

O número de vítimas civis causado pelo ataque não foi revelado. As forças israelitas dizem não ter ainda essa informação, recusando especificar o tipo de armamento usado no bombardeamento, assim como detalhes sobre a comprovação da morte de Nasrallah.

O Hezbollah ainda não confirmou a morte do seu líder.

Nasrallah, de 64 anos, subiu à liderança do movimento em 1992, em substituição de Abbas Moussaoui, depois de este ter sido igualmente morto durante um ataque israelita com um helicóptero. Nascido em agosto de 1960, a sua adolescência foi marcada pela guerra civil libanesa. Quando Israel invadiu o Líbano, em 1982, Nasrallah juntou-se a um grupo de combatentes que evoluiria para o atual Hezbollah.

Foi o seu líder durante 32 anos. Vivia escondido, raramente aparecia em público, tornando-se o homem mais poderoso e influente do país, alvo de um verdadeiro culto de personalidade. A popularidade de Nasrallah no seio da comunidade xiita é apoiadas por uma vasta rede de escolas, hospitais e associações ao serviço dos seus apoiantes. Membro do governo e do parlamento, onde nem o seu campo nem os seus opositores têm maioria absoluta, impediu a eleição de um Presidente da República durante quase dois anos.

Inimigo de Israel

O Hezbollah libanês é um dos principais inimigos de Israel. Após o ataque do Hamas a 7 de outubro de 2023 e o início da guerra em Gaza, o movimento atacou Israel em apoio ao aliado palestiniano. Os confrontos transfronteiriços degeneraram num conflito quase total no início da semana, com Benjamin Netanyahu a lançar uma campanha de bombardeamento maciço contra os bastiões do Hezbollah no sul e leste do Líbano e nos subúrbios do sul de Beirute.

Durante meses, Israel enfraqueceu consideravelmente o movimento, eliminando um a um os seus mais altos comandantes, incluindo o chefe militar Fouad Chokr, morto em julho. Segundo a agência France-Presse, a confirmação da morte de Hassan Nasrallah será um golpe sem precedentes para o movimento.

O "Partido de Deus" foi criado em 1982, na sequência da invasão israelita do Líbano, por iniciativa dos Guardas da Revolução, o exército ideológico da República Islâmica do Irão. Tornou-se a "ponta de lança" da luta contra Israel, que se foi retirando progressivamente do Líbano até 2000, após 22 anos de ocupação.

Desde então, vários episódios de violência opuseram o Líbano a Israel, culminando numa guerra em 2006, na sequência do rapto de dois soldados israelitas na fronteira entre os dois países. Israel lançou então uma grande ofensiva. A guerra, que durou 33 dias, causou a morte de 1.200 libaneses, na maioria civis, e 160 israelitas, maioritariamente soldados.

A Resolução 1701 do Conselho de Segurança, que pôs fim à guerra, estipulava que apenas o exército libanês e as forças de manutenção da paz da ONU deveriam ser destacados para o sul do Líbano. Mas o Hezbollah manteve a presença na região, onde os peritos dizem que escavou uma rede de túneis, reforçou o seu arsenal, que inclui mísseis teleguiados, e afirma ter 100 mil combatentes. As principais instituições do movimento têm sede nos subúrbios do sul de Beirute desde que o antecessor de Nasrallah, Abbas Moussaoui, foi assassinado por Israel em 1992.

O Hezbollah é o membro mais influente do "eixo de resistência" promovido pelo Irão contra Israel, que inclui o Hamas palestiniano, os rebeldes Huthis no Iémen e grupos iraquianos. Em 1997, os Estados Unidos colocaram-no na lista de organizações terroristas, sujeitas a sanções económicas e bancárias. Responsabilizam-no pelo atentado que matou mais de 200 fuzileiros norte-americanos em Beirute, em 1983, e pela tomada de reféns ocidentais durante a guerra no Líbano.

Desde 2013, a União Europeia considera também o braço armado do movimento como uma organização terrorista. O Hezbollah é acusado de envolvimento no assassinato do antigo primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, pelo qual dois dos seus membros foram condenados à revelia a prisão perpétua em 2022.