Guerra no Médio Oriente

Israel cede à pressão internacional e aceita “pausas humanitárias” em Gaza para vacinação contra poliomielite (guerra, dia 328)

O Governo israelita acedeu ao apelo dos EUA, da ONU e da UE para suspender os combates em Gaza enquanto se realiza a campanha de vacinação contra a poliomielite, doença detetada pela primeira vez em 25 anos no enclave palestiniano. Há receios de que o vírus se propague ao território israelita

IBRAHEEM ABU MUSTAFA / REUTERS

Israel concordou em interromper as operações militares em Gaza a partir de domingo, 1 de setembro, durante três dias, entre as 6h e as 15h, para permitir a realização da campanha de vacinação contra a poliomielite infantil, anunciou a Organização Mundial de Saúde (OMS), citada pela Al Jazeera.

A decisão surge após a intensificação da pressão internacional sobre Telavive nos últimos dias por parte dos EUA, da ONU e da UE, que vêm alertando para a proliferação da doença, identificada em Gaza pela primeira vez em 25 anos num bebé de 11 meses. Os pedidos para uma trégua humanitária têm crescido devido à progressiva deterioração das condições de saneamento e higiene e escassez cada vez maior de equipamentos e profissionais de saúde no território.

A visita do secretário de Estado norte-americano Antony Blinken a Israel, na semana passada, terá sido fulcral para viabilizar o acordo, escreveu a Al Jazeera. As “pausas humanitárias” permitirão a mais de dois mil funcionários da ONU vacinar as cerca de 640 mil crianças com menos de 10 anos que vivem em Gaza. Para conter a doença, é necessário que as inoculações incluam 90% desta população.

De acordo com Rik Peeperkorn, representante da OMS para os territórios palestinianos citado pela Lusa, a suspensão dos combates será feita de forma sequencial em diferentes zonas de Gaza. Na prática, isto significa que haverá três “pausas humanitárias” de três dias – uma que começa no domingo, no centro de Gaza, outra no sul e outra no norte. Se for necessário, a campanha de vacinação poderá ser prolongada por mais um dia em determinada área.

Declaração do Governo “deliberadamente vaga”

A Al Jazeera refere, igualmente, que existem receios, validados pelas agências de ajuda humanitária, de que o surto de poliomielite infantil se alastre rapidamente a todo o enclave palestiniano e acabe por chegar a Israel, o que também poderá ter contribuído para a concessão do governo de Benjamin Netanyahu.

Perante uma notícia da televisão israelita que falava numa trégua geral durante a campanha de vacinação, o gabinete do primeiro-ministro israelita apressou-se a desmentir e afirmou que aprovou a “designação de locais específicos” para a suspensão dos combates em Gaza. “Esta medida foi apresentada ao gabinete de segurança e recebeu o apoio dos profissionais competentes”, lê-se no comunicado reproduzido pelo ‘The Guardian’.

O jornal britânico considera que “a declaração concisa pode muito bem ter sido deliberadamente vaga” para não aborrecer as forças políticas de extrema-direita que mantêm o Executivo de Netanyahu de pé, uma vez que estes rejeitam veementemente qualquer forma de trégua ou apoio ao povo palestiniano.

Na segunda-feira, o Governo de Gaza, controlado pelo Hamas, confirmou a chegada de 1,2 milhões de vacinas ao enclave palestiniano, mas os especialistas tinham afirmado que seria impossível realizar uma campanha de vacinação bem sucedida com os bombardeamentos constantes das forças israelitas.

Outras notícias que marcaram o dia:

As autoridades israelitas pretendem demolir a maior parte da aldeia de Khirkbet Karkur, de onde é natural o refém resgatado na quarta-feira, Kaid Farhan al-Kadi, da minoria beduína de Israel. Segundo a Al Jazeera, Telavive considera as estruturas ilegais e prevê deitar abaixo 70% das casas. Embora os beduínos tenham cidadania israelita e alguns sirvam no Exército, existe uma relação tensa entre o Governo e a comunidade, muitas vezes alvo de discriminação.

⇒ O ministro da Defesa israelita acredita que os objetivos de guerra de Telavive devem ser expandidos e passar a incluir o regresso a casa dos mais de 60 mil deslocados do norte do país, na fronteira com o Líbano, onde Israel e a milícia xiita Hezbollah têm aumentado o fogo cruzado nos últimos meses.

⇒ Não há nenhum navio português a transportar armas para Israel, garantiu o ministro dos Negócios Estrangeiros aos jornalistas, dando resposta a uma denúncia feita pelo Bloco de Esquerda. Segundo Paulo Rangel, trata-se de um navio alemão com pavilhão português que se dirige não para Israel, mas para a Eslovénia e Montenegro.

⇒ Os mediadores internacionais estão a estudar novas possibilidades para resolver as questões relacionadas com o controlo do corredor de Filadélfia e da junção de Netzarim, que têm estado no centro do bloqueio do acordo para um cessar-fogo na Faixa de Gaza, de acordo com o jornal israelita ‘Haaretz’.