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Guerra no Médio Oriente

Resistir na Cisjordânia: entre os ataques israelitas e a Autoridade Nacional “que se vendeu” a Israel

Há tiroteios a toda a hora, na cidade de Nablus, e para lá dela, porque alguns dos colonos mais extremistas vivem nas colinas próximas. As ruas estão cobertas de fotos de mártires, combatentes mortos. Camadas de fotografias. Umas em cima das outras, porque já não há espaço. E os jovens passam o dia no cemitério junto das sepulturas dos amigos ou a ver Gaza na Al-Jazeera. Na Cisjordânia, a Intifada é um emprego. O único que resta

Colonos israelitas na região da Cisjordânia
Francesca Borri

Todos estão alerta. Os guardas estão colados aos ecrãs das câmaras de vigilância, que monitorizam todas as entradas da cidade. “Mas está tudo quieto”, digo, “não há sequer um polícia por perto”. Exatamente, responde-me o guarda à janela, apontando a M16 para fora. “Quando a polícia sai, significa que as IDF [forças de defesa de Israel] estão prestes a atacar.”

Normalmente, em Nablus o sinal de um ataque iminente era o som dos drones à procura do alvo. Agora, é a Autoridade Nacional Palestiniana, que é contra a resistência armada e, que para a parar, junta-se a Israel. Por essa razão, muitos dizem que se vendeu.

Mais de 35% do seu orçamento vai para as forças de segurança, que representam 44% dos seus 147 mil trabalhadores. E, de facto, isso não seria de esperar: entre incursões de colonos e ataques de soldados, antes de 7 de outubro, 2023 já tinha sido o ano com o maior número de mortes desde o final da Segunda Intifada. Mas afinal: que orçamento? O Conselho Legislativo da Palestina foi dissolvido em 2018 e desde então, ninguém tem supervisionado nada. O dinheiro é apenas gasto. Desde então, Mahmoud Abbas, cujo mandato presidencial acabou em 2009, tem vindo a governar sozinho, por decreto, nomeando todos os funcionários, incluindo juízes. As últimas eleições realizaram-se em 2006.