“Pressão, pressão e mais pressão." O plano de Benjamin Netanyahu para obter mais concessões por parte do Hamas nas negociações de cessar-fogo quase faz esquecer que, afinal, os avanços diplomáticos dependem também da sua liderança. Tem havido parcos desenvolvimentos durante a renovada tentativa, desde o início do mês, para cessar as hostilidades. Por duas razões, de acordo com analistas das áreas de defesa, estratégia e relações internacionais: não só a vontade política de Netanyahu e da chefia do Hamas têm deixado a desejar, como o primeiro-ministro israelita permanece condicionado, entre a espada da guerra e a parede da sede do seu Governo.
Nem a pressão de Joe Biden e do seu fiel escudeiro, Antony Blinken, tem sido suficiente, garante ao Expresso Paul Rogers, professor emérito de Estudos da Paz na Universidade de Bradford. “Provavelmente será necessário um embargo completo de armas dos EUA para que Netanyahu avance para um cessar-fogo. Netanyahu está à espera de uma vitória de Trump, que potencialmente aliviaria a pressão dos EUA sobre Israel.”
Blinken, a mais alta figura da diplomacia norte-americana, voltou a manifestar “preocupação” relativamente aos mais recentes ataques perpetrados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) contra Gaza no fim de semana. De acordo com autoridades de Gaza - que fazem integram o grupo Hamas -, cerca de 90 pessoas morreram em Al-Mawasi, uma área que os militares israelitas designaram como zona humanitária, e, por isso, segura. Apesar de as autoridades israelitas já terem reclamado várias conquistas militares, os analistas duvidam cada vez mais de que Netanyahu venha a obter a vitória que desejava por meio da guerra. “O Hamas parece impossível de desalojar e continua ativo na maior parte de Gaza, mesmo depois de 37.000 mortos, 75.000 feridos e grande parte de Gaza reduzida a escombros”, refere Paul Rogers.
Os serviços de segurança israelitas falharam a 7 de outubro, e continuaram a falhar, afirma também John Strawson,perito em Estudos do Médio Oriente. “A rede de túneis e a resiliência da milícia do Hamas fizeram com que os israelitas fossem arrastados para uma guerrilha urbana cuidadosamente planeada, onde nunca têm a certeza de onde está o inimigo. O Hamas sofreu um duro golpe, é certo, mas continua a ser uma força capaz, e a operar em áreas que Israel pensava terem sido libertadas. Possuem grandes stocks de armas, alimentos e medicamentos. Israel está muito longe de atingir os seus objetivos militares. Só existe uma solução política para a crise em Gaza e para o conflito israelo-palestiniano. Esta guerra provou-o.”
Nada disso fez o líder israelita recuar. “Enquanto continuarmos a pressioná-los, o Hamas desistirá cada vez mais [das suas exigências]”, declarou Netanyahu num discurso ao Parlamento, acusando os seus adversários internos de derrotismo.